Você abre suas redes sociais para ver propaganda? Posso apostar que a resposta é não. Já parou e percebeu que crianças de 2 anos (ou menos) já sabem pular anúncios no Youtube? Pois é, está cada vez mais difícil trabalhar com publicidade - ou melhor - desafiador. O mercado aposta em diferentes formas e meios de comunicação, incluindo TV, digital, influenciadores e conteúdos originais, mas quero trazer aqui hoje um assunto mais profundo: a marca atuando como influenciador.
Talvez uma das mais profundas camadas de maturidade de conteúdo. Digo isso, pois infelizmente não é para todos, é preciso assumir uma persona e viver ela com suas qualidades e defeitos. Pessoas se conectam e acreditam em pessoas, incluindo as vulnerabilidades, qualidades e defeitos, e esse talvez seja o caminho mais curto para isso.
É claro que o ramo está repleto de empresas que já entendem essa importância da influência e trabalham nela com maestria, mas eu preciso destacar alguns cases de marcas que já estão posicionadas quando o assunto é conteúdo.
Uma espécie de biscoito envolto em chocolate preto, ainda bem que o Bis não é vendido assim, pois eles investem em uma embalagem digital muito mais atraente. O perfil no instagram do produto nos apresenta um conteúdo que se relaciona com a vontade do consumidor. Uma rede social que se mostra “descolada” na medida certa. Unindo memes, humor e conteúdos que não dizem diretamente: levanta e vai comprar um Bis (na maturidade de que estão, poderiam até se comunicar assim), mas entretém sem interromper.
Os "Adms" souberam dar adeus ao conteúdo engessado e enlatado, totalmente formal e com cara de receita médica para apresentar a empresa. Vestiram o perfil com uma cara que conversa diretamente com o público que está na rede, trazendo posts que se transformam em virais, a partir da empatia que gera em quem se conecta com os conteúdos.
Mas você pode estar se perguntando que nem todos gostam desse tipo de conteúdo, certo? Concordo, e de fato não é para todos. Estamos falando de comunidade, e é nessa hora que você se identifica ou não com aquela que a marca está apostando, fica a seu critério.
A Nissin é um outro caso de sucesso. Uma marca japonesa que encontrou a forma de tropicalizar o seu conteúdo. Para resumir e materializar o que estamos falando, uma das últimas campanhas que está atualmente no ar é a Misturiojo, a marca simplesmente se apropriou da mania de alguns consumidores que é a mistura de miojos, resultado disso? A campanha esteve com aproximadamente 17% de engajamento no instagram (fonte: Hypeauditor).
O uso de uma brincadeira com o nome do produto, criando uma palavra derivada que é auto explicativa, é algo informal, que combina com as redes e com o público que eles mais almejam. E você pode se questionar se isso funciona apenas usando humor como centro do conteúdo, e, na maioria das vezes, é o que move a internet. A fórmula se repete em variados nichos e de variadas formas.
Trago mais dois exemplos que trabalham com excelência suas redes: A Sallve e a Grão de Gente, marcas que sabem se aproximar do seu público, trabalham seus produtos em meio a narrativa, conteúdo informativo e desejo, a oferta, o preço vem como consequência, ali a comunidade já está engajada e fica mais fácil a conversão.
A ideia de comunidade, que tão bem disseminada foi lá na época do Orkut (os mais jovens que me desculpem pela referência nem tão atual, nem tão longínqua) determina o nosso modelo atual de negócios. Marcas sabem que precisam conversar com as comunidades que apoiam suas existências, produtos e relacionamentos, e sabem que para fazer isso de forma correta precisam ser reais em seus direcionamentos.
Para que este movimento aconteça, foi necessário um modelo mais atrevido de equipes de marketing e conteúdo. Foi preciso que os materiais parassem de ser produzidos por engravatados com ideias na cabeça, para equipes mistas, colocando da porta pra dentro pessoas que consomem os produtos, usam, vivem, se relacionam com os consumidores de dentro pra fora, ou até mesmo trazendo os próprios creators como colaboradores da marca.
O fenômeno "Marca as a influencer" não é de hoje, e veremos cada vez mais esse movimento, uma vez que as marcas influenciam as pessoas simplesmente porque as pessoas se importam com elas.
Gabriel Lima é COO da MField