Apaixonada por design e atuando há mais de dez anos na área criativa do design experimental para eventos e marcas, o Milan Design Week sempre esteve no meu radar como um “must see” – um daqueles destinos que vão além da curiosidade e se tornam uma referência.

Neste ano, finalmente tive a oportunidade de vivenciá-lo. E foi ainda mais surpreendente do que eu imaginava.

Milão, durante essa semana, literalmente respira design e arte.

Em apenas quatro dias – que pareceram 15, tamanha a intensidade dos estímulos visuais e sensoriais –, mergulhei em uma programação repleta de experiências que provocam, encantam e nos tiram do lugar-comum.

Com o tempo curto e uma agenda extensa, foquei minha atenção no Fuorisalone, onde se concentram ativações de marcas e instalações que dialogam diretamente com o meu universo como diretora de criação em uma agência de brand experience.

Escolhi três distritos-chave para explorar: Brera, Porta Venezia e 5Vie.

Dentro deles, consegui visitar praticamente todas as experiências que havia mapeado como essenciais.

Entre os destaques, tive o privilégio de vivenciar a obra de A.A. Murakami, convidado pela marca Kia.

Suas bolhas amorfas e gigantescas criaram uma instalação performática e interativa, que nos transportava para uma dimensão efêmera e sensorial.

Outra experiência marcante foi a instalação 'Library of light', de Es Devlin, que transformou o pátio da Pinacoteca di Brera em um espaço de contraste poético entre história e contemporaneidade.

Uma biblioteca giratória criava uma coreografia suave, transformando a percepção do tempo e do espaço.

Também me impactou profundamente a obra ‘Lucida’, do artista americano Lachlan Turczan, parte da exposição do Google ‘Making the invisible visible’.

A instalação de halos luminosos reagia à presença humana, criando uma experiência sensorial que tornava o invisível tangível — uma metáfora belíssima sobre o processo criativo.

O que mais me chamou a atenção ao longo de toda a jornada foi a sutileza com que as marcas se inserem nas experiências.

As colaborações entre artistas e marcas são uma constante no Fuorisalone, mas sempre com um cuidado claro: o protagonismo é da arte.

O olhar do artista prevalece, sem didatismo ou explicações óbvias.

Sem apelar, sem explicar demais, sem precisar de legenda.

A marca está ali, presente, mas quase imperceptível — como uma facilitadora da arte para contemplação coletiva.

Essa imersão reforçou que arte contemporânea e design são formas potentes de conexão emocional entre marcas e pessoas.

Volto de Milão com a sensação de ter vivido algo raro, com a mente cheia de ideias e o coração ainda mais apaixonado por tudo o que o design e a arte podem provocar no mundo.

Mariana Perez é diretora de criação da Sherpa42