A COP define condições básicas para que possamos continuar a viver com dignidade
Desde 10 de novembro, Belém é a capital do clima. A Conferência do Clima da ONU — a COP30 — reúne líderes globais, cientistas, empresas, investidores e representantes da sociedade civil para discutir o que talvez seja o maior desafio da humanidade: evitar que o planeta se torne inabitável para as próximas gerações.
Nas últimas semanas, muito se falou sobre os problemas logísticos da conferência: falta de hotéis, estrutura insuficiente, risco de improvisos. As críticas ganharam manchetes e memes. Mas reduzir a importância da COP ao problema de hospedagem é desperdiçar a dimensão histórica do momento.
O que está em jogo em Belém supera, em muito, qualquer questão de infraestrutura. São 194 países representados e perto de 50 mil pessoas inscritas, o que já garante representatividade para importantes tomadas de decisão.
A COP30 buscará acelerar a implementação do Acordo de Paris — aquele que tenta garantir que o aquecimento global não ultrapasse 1,5°C, limite acima do qual poderemos atingir o temido ponto de não retorno, convivendo com eventos extremos, colapso de ecossistemas e perdas humanas, que se tornarão inevitáveis.
Financiamento climático trilionário, transição energética justa, adaptação das cidades a uma realidade mais extrema, proteção e valorização da Amazônia e de sua gente — tudo isso está em pauta. E o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (Tropical Forest Forever Facility – TFFF) corre por fora como o grande projeto de preservação de florestas, capitaneado pelo Brasil.
Esses temas não são pautas apenas de especialistas. São pautas da vida. O clima interfere no preço dos alimentos, na água que abastece nossas casas, na energia que chega às indústrias, nos empregos que existirão amanhã.
Não devemos dar ouvidos a negacionistas: o importante é o entendimento de que a COP interessa a todos porque define condições básicas para que possamos continuar a viver com dignidade no planeta que chamamos de lar.
E há mais. O Brasil está diante de uma chance única de ocupar o papel de protagonista global na economia verde. Detentor da maior floresta tropical, da maior biodiversidade e de uma matriz energética mais limpa que as grandes potências, o país pode liderar soluções que o mundo demanda com urgência: hidrogênio verde, bioeconomia amazônica, créditos de carbono, agricultura regenerativa, turismo sustentável — um oceano azul de oportunidades.
Mas tecnologia e investimento não bastam. A verdadeira virada depende de algo mais essencial: pessoas. É o fator humano — nossa capacidade de cooperar, criar, nos responsabilizar e agir com empatia — que define se grandes acordos saem do papel.
São lideranças empresariais, cidadãos conscientes, gestores públicos e comunidades locais que transformarão metas em práticas e florestas em prosperidade. Se tudo der certo em Belém, não será por causa dos protocolos diplomáticos, mas pela coragem de mudar.
Por isso, precisamos, sim, de mais hotéis, mais transporte, mais estrutura e planejamento. Mas precisamos, sobretudo, de propósito. Porque não estamos recebendo apenas um evento — estamos recebendo uma oportunidade histórica de provar que sabemos cuidar do planeta e uns dos outros.
A COP vai passar e o que fica é a consciência de cada um e o discernimento de que o futuro da humanidade continuará dependendo disso: pessoas fazendo escolhas que salvam vidas. É a sua escolha, como pessoa, que fará a diferença.
São as escolhas das empresas, adotando uma administração sensível e respeitosa com o clima e as pessoas. A COP é muito importante! Mas mais importante será o seu legado e o fator humano prevalecendo, garantindo sobrevivência às futuras gerações.
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
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