Já virou tradição. Todos os anos milhares de pesquisas de tendências para os mais diversos segmentos e temáticas surgem no mercado.  Mais acentuadamente nesta era de transformação digital acelerada, é praxe o mercado lançar - ao final de cada ano - inúmeros estudos e pesquisas de tendências que revelam novos hábitos, estilos de vida e comportamentos de consumo. Em geral, essas temáticas acabam por reverberar modelos a serem perseguidos ou ainda usados como justificativas para as mais diferentes ações de marketing e comunicação.

Quando nós, profissionais de publicidade e marketing, paramos para pensar como seria o último trimestre de um ano tão desafiador e atípico como 2022, pude perceber que tínhamos um cenário ainda mais nebuloso… O que será de 2023? Passamos e avançamos no cenário de pandemia, também pelas eleições de maior complexidade dos últimos anos no Brasil, pela Copa fora de época e a mais desafiadora em relação às pautas dos direitos humanos… e aí? Como o mercado reagirá?

O desejo era de olhar para o mercado muito menos pelo viés numérico e muito mais com base no viés comportamental. Algo como "o que será de nós, como líderes, o que será de nossas equipes, o que será da era da criação de conteúdo, das novas relações que os creators vêm demandando das marcas, … No que estamos nos transformando?".

Foi desta reflexão que entendi a importância de consultar um parceiro, encontrar uma fonte de referência em comportamento humano para estudar tendências de forma aprofundada e com base científica. E foi assim que nasceu o “Mind the Future”: um estudo que analisa o tripé pessoas, pensadores e produtos para trazer ao mundo um olhar contemporâneo para o mercado. Lançamos, em parceria com o laboratório de investigação e análise de tendências do Labô PUC-SP, um conteúdo para transitarmos livremente entre possibilidades e hipóteses até chegarmos em 8 tendências sobre comportamento e influência para nos multidirecionar em 2023.

Como navegar e combinar contextos?
A ideia central parte do exercício de olhar para as tendências, não como algo a ser seguido estritamente, mas como um movimento que precisamos fazer, transitar… O relatório “Mind the Future: 8 tendências em comportamento e influência” não é um estudo unidirecional. Não há ponto de chegada, mas constante deslocamento; é como transitar pelo metrô: podemos fazer uma parada, uma baldeação, mas o movimento não se encerra e suas possibilidades são diversas.

Para além das tendências em si, que viraram um mapa mental e que nos guiaram durante todo o estudo (eu amei o mapa mental que remete ao metrô de Londres - espero que vc goste tb), eu gostaria de convidar sua atenção para mergulhar em cada um dos 8 movimentos que identificamos para de fato tratarmos dos comportamentos humanos que estarão em evidência em 2023 e o que pensamos sobre cada contexto.

Como uma forma de ilustrar possibilidades de comunicação e de estabelecer diálogo com diferentes audiências, o estudo apresenta ainda uma curadoria de creators que transitam muito bem - alguns de forma brilhante, inclusive, entre as tendências e contextos mapeados. Uma indicação de 85 perfis de criadores de conteúdo e influenciadores que ativam e engajam sua audiência a partir das 8 temáticas.

Imagine um pêndulo; algo que está sempre em movimento, indo de um lado para o outro e quando está parado, se encontra no centro. O pêndulo é a alegoria que elegi para imaginar uma sociedade que necessita cada vez menos de estereótipos e binaridade e cada vez mais de tolerância, escuta e diálogo. Acredito que ao percorrer os próximos 8 contextos pesquisados e analisados pelo Labô Tendências (PUC-SP) você chegará em muitos insights relevantes para orientar suas estratégias e ativar seus negócios. Vamos a elas?

1 Mind the Aesthetic - pense a estética
Driblar os padrões: assumir a liberdade estética; compreender a volatilidade das estéticas que disputam espaço e assumir suas coexistências são passos necessários para melhor construir o conjunto estético e discursivo que melhor te representa.

2 Mind the Politics - pense a política
Ampliar as conexões coletivas: na conjuntura polarizada atual, assumir um posicionamento tão somente, não basta. Como parte de um movimento, as marcas podem se colocar como um elo entre consumidores, influencers e as discussões presentes na sociedade, criando espaços de troca.

3 Mind the Truth - pense a verdade
Abraçar a organicidade da vida: é menos sobre negar as edições e os filtros e mais sobre assumir a materialidade do corpo humano perante a perfeição inalcançável.

4 Mind the Education - pense a educação
Criar espaços de conexão e aprendizagem: as diferentes plataformas digitais tornaram-se espaços que possibilitam aprendizado e conhecimento. Criar conexões através da troca de aprendizados para emancipar e inspirar os sujeitos.

5 Mind the Housing - pense a casa e o casar
Valorizar o acesso: em uma vida que parece cada vez mais instável e volátil, possuir coisas que demandam um alto investimento não parece fazer sentido. Na lógica da impermanência, a valorização do acesso ganha espaço.

6 Mind the Purpose - pense o propósito
Desacelerar e aprofundar: seja em quantidade, frequência e até em conteúdo, pode ser um dos caminhos para sair dessa lógica da hiper produtividade e, consequentemente, exaustão. Desacelerar e abraçar essa desilusão pode nos auxiliar a construir novos caminhos, mais conectados à realidade.

7 Mind the body - pense o corpo
Evitar estigmas na busca por conexão: com as identidades cada vez mais deslocadas, conexões muito restritas podem acabar por estigmatizar as pessoas. Assumir a fragmentação das identidades é essencial para criar conexões.

8 Mind the End - pense a finitude
Acolher a finitude: o uso das tecnologias digitais no cotidiano descolam as noções de tempo e espaço, com isso, assuntos ligados a finitude da vida também ganham novas camadas. A morte, o encerramento de ciclos e a finitude das coisas são assuntos cada vez mais discutidos e que devem ser levados em consideração, em contrapartida ao desejo pela eternidade.

Waleska Bueno é sócia e CMO na Cely