Muitos anos no marketing eleitoral me fazem um sujeito cada vez mais cético e relativista. Por isso, sempre que assisto a uma cena de passionalidade, envolvendo política, identifico pelo menos um ingênuo. Alguém que acredita em ideais, sejam à esquerda, sejam à direita. Menos mal que ainda exista gente assim, sinal de que há esperança para a humanidade.

Mas, de fato, o que move toda essa engrenagem institucional é o dinheiro. Em nome de bandeiras partidárias, se constituem negócios de todos os tamanhos, negócios distritais, municipais, estaduais e federais. Negócios que se associam uns com os outros, compondo conglomerados poderosos para disputas acirradas com outros conglomerados poderosos. Não por acaso, repetem-se nomes de patriarcas em filhos, netos e bisnetos, a fim de que famílias mantenham seus domínios inabalados.

Entes federativos são loteados entre parentes, amigos e aliados, como se terras particulares fossem. Nenhum objetivo político avança sem algum tipo de acordo com esses proprietários. Mas, o voto não é livre? Claro que não. Liberdade implica em independência. E a imensa maioria do eleitorado brasileiro é totalmente dependente de algum cacique político.

O sistema está montado assim e não há como escapar dele. O povo tem consciência disso e joga o jogo. As eleições são como um natalzinho, e todo mundo ganha o seu quinhão. Posar para as câmeras de uma candidatura, fazendo o V da vitória, pode ser um bom negócio. Imagina se levar a família inteira. Colocar o carro na carreata é garantia de tanque cheio. Parece pouco? Pense que são meses de campanha, muitos candidatos e uma luta ferrenha para ganhar. Tem gente que vive disso o ano todo, mantendo acesa a chama do potencial de votos de certos nomes. Os eleitos passam a ser detentores de verdadeiras preciosidades, os chamados cargos de confiança.

Centenas, milhares, de vagas com gordas remunerações, nas câmaras municipais, assembleias estaduais e no Congresso Nacional. E os contratados, muitas vezes, nem precisam sair de casa, nem abandonar os seus negócios. Está aí a Wal do Açaí que não nos deixa mentir. Todos recebem a compensação por seu empenho na campanha, sem esquecer de fazer a rachadinha, claro, e se mantêm a postos para promover permanentemente o nome contratante. Enfim, um meio de vida sustentado com dinheiro público, e improdutivo para a sociedade.

Trata-se de um modelo tão enraizado e há tanto tempo, que já não causa escândalo. Pelo contrário, quem tentar mexer nele corre o risco de ser apedrejado. Funciona como um sistema de vasos comunicantes, interdependentes, irrigando um padrão de democracia suficiente para alimentar discursos democratas e fundamental para manter uma desigualdade social conveniente e absurda.

Sem uma massa eleitora mergulhada na miséria e na ignorância o modus operandi da política brasileira perde o sentido. Seria o protagonismo do mérito genuíno das candidaturas, em detrimento dos sobrenomes e das negociatas.

Sem chance.

Stalimir Vieira é diretor da Base de Marketing
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