Comecei a escrever este artigo olhando as árvores pela janela de um parque em Pernambuco, mas vou finalizá-lo sob a brisa do mar da Bahia. Se me contassem que estaria trabalhando neste formato há alguns anos, eu custaria acreditar. Os formatos de trabalho sofreram mudanças por conta da pandemia da Covid-19 e, junto com ela, as formas das empresas e empreendedores exercerem suas funções também - e eu embarquei nessa experiência.

Mas, afinal, o que é nomadismo digital? Diferente do home office, onde desenvolvemos as atividades do trabalho em casa, são chamados nômades digitais os profissionais que podem aproveitar a liberdade da tecnologia, das redes sem fio de alta velocidade e os dispositivos móveis para conciliar viagens e o trabalho remoto em qualquer cidade que desejar. Estamos falando de uma experiência de vida proporcionada pela tecnologia, que viabilizou a efetividade de todas as modalidades de trabalho não convencionais.

Costumo dizer que escolher pelo nomadismo digital não é apenas optar por uma forma de trabalho, e, sim, por um estilo de vida diferente do convencional, e é esta liberdade de poder viajar e residir em qualquer local enquanto trabalha que tem atraído cada vez mais adeptos. Mas será que as empresas estão prontas para isso?

As empresas continuam passando por muitas adaptações desde o primeiro lockdown, e lidar com tantas mudanças em processos internos e com seus colaboradores não é fácil. As pessoas puderam experimentar outra forma de vida, além de terem tido de lidar com desafios mentais em diferentes escalas, o que fez com que muitos repensassem suas carreiras e isso, claro, impactou os negócios. As agências de publicidade não escaparam deste efeito e, se já passavam por mudanças e adaptações vindas com a transformação digital, tiveram de acelerar seus processos para se tornarem atraentes, reter seus talentos e conquistar novos.

Neste cenário, acredito que líderes e gestores precisam rever não só o formato de trabalho, mas também a forma de medir a produtividade, deixando de focar na carga horária e focar no sucesso medido pela entrega de resultados. Não quero minimizar o desafio que é tornar isso executável em larga escala, mas, por experiência, afirmo que com estruturação dos boards, colaboração dos times e incremento de ferramentas e metodologias ágeis para darem suporte a esta estrutura, este desafio se torna fluido e possível de ser realizado.

Por outro lado, não adianta apenas a empresa fazer o seu papel. É preciso que o colaborador esteja atento às softs skills importantes que devem ser colocadas em prática no nomadismo digital. Ser nômade requer muita habilidade em planejar suas atividades, gerir tempo, pautas, adaptabilidade e agilidade, afinal de contas, qualquer pessoa que esteja em viagem sabe que terá de lidar com imprevistos, que podem se tornar sérios quando se tem trabalhos para entregar.

Por isso é tão importante o comprometimento individual com metas e responsabilidades, se não o sonho da liberdade pode virar um pesadelo com sérias consequências, como burnout e outros perigos emocionais que impactam não só a vida do indivíduo, mas também de quem ele convive no âmbito pessoal e do seu trabalho.

É importante termos uma visão ampla sobre o nomadismo digital, encarando seus alertas e suas vantagens, mas exercitando e dominando estes pontos, garanto que a experiência é muito enriquecedora. Você terá a oportunidade de conhecer muitas culturas, formar um network fantástico, aprender outras línguas, e tudo isso no seu tempo, com autonomia para gerir sua liberdade de escolha e qualidade de vida. Vale lembrar que a janela do mundo pode ser a tela do computador, mas “os olhos precisam viajar” além das telas e poder conciliar estes cenários faz toda a diferença.

Rebecca Lopes Lyrio é líder de branding e growth MKT da Hackel e Grupo TXTOH, parceira do Sinapro (BA) - contato@rebeccalyrio.com.br