O ensino médio brasileiro tornou-se o santuário do politicamente correto — uma espécie de igreja secular onde a heresia maior é pensar por conta própria. O aluno não é educado, é domesticado.
Aprende desde cedo que a virtude não está na verdade, mas no vocabulário certo: basta dizer “todes”, “corpes” e “lugar de fala”, para ascender imediatamente à categoria de ser iluminado.
Antigamente, a escola era o lugar onde o jovem se confrontava com o mundo real — com suas contradições, injustiças e mistérios.
Hoje, é o refúgio onde ele é protegido de qualquer ideia que o faça pensar.
Os professores, antes mestres, agora se comportam como babás ideológicas: em vez de ensinar lógica, ensinam “respeito às diferenças” (desde que a diferença não seja discordar do grupo).
O politicamente correto é a nova gramática da mediocridade. Ele transforma a covardia em virtude e a censura em sensibilidade.
O estudante aprende a pedir desculpas por existir antes mesmo de saber quem é.
Aprende que toda conquista é privilégio, toda opinião é opressão e todo mérito é suspeito.
O ensino médio é o vestibular da idiotice: quem passa é quem aprendeu a odiar a contestação.
Os antigos gregos formavam cidadãos; nós formamos fragilizados emocionais com diploma.
O jovem sai da escola incapaz de argumentar, mas pronto para lacrar em qualquer debate sobre “desconstrução”.
A inteligência, que antes se media pela capacidade de compreender e aplicar, agora se mede pela habilidade de se ofender.
E o mais irônico é que tudo isso é vendido como “libertação”.
Libertação de quê? Da razão, da cultura, da história — de tudo o que possa lembrar que o ser humano é mais do que um conjunto de emoções feridas.
O ensino médio moderno é o berçário do ressentimento: um lugar onde ninguém aprende a pensar, mas todos aprendem a se ofender.
No fim, o politicamente correto não é uma forma de civilização — é uma forma de amnésia.
Ele apaga a memória da cultura, destrói o senso de humor e transforma o espírito crítico em histeria moral.
E o resultado disso é o imbecil ilustrado: aquele que fala bonito sobre inclusão, mas não consegue conjugar um verbo nem argumentar sem gritar.
O ensino médio, hoje, não prepara o jovem para o mundo — prepara o mundo para o jovem.
Um mundo onde ninguém pode discordar, rir ou questionar. Um mundo perfeitamente seguro, perfeitamente estéril, perfeitamente idiota.
Otto Ferrentini Gonçalves de Oliveira e Antonio Bernardo Lee
são alunos do Colégio Nossa Senhora das Graças