Toda vez que vejo ou leio um artigo sobre inteligência artificial, sempre me vem à mente a imagem de um cara cortando a grama com um cortador em cima de um hoverboard.

Essa imagem tem tudo a ver com o que vamos falar hoje: a maneira como a IA vai transformar a maneira como vivemos.

Estamos na era da Revolução da Informação. O que vivemos hoje é semelhante com o impacto que a manufatura sofreu durante a Revolução Industrial no século 18 e nós  já sentimos as repercussões sensíveis do uso inusitado, indevido ou exploratório da inteligência artificial (IA) no campo da informação. Alguns casos soam até inofensivos, como a foto do papa Francisco de casaco puffe, obra que foi gerada no AI Midjourney pelo engenheiro civil americano, Pablo Xavier.

Na ocasião, Xavier explicou que resolveu criar a imagem pois estava "(...) tentando descobrir maneiras de tornar algo engraçado porque é o que geralmente tento fazer... Eu tento fazer coisas engraçadas ou arte alucinante – coisas psicodélicas. Simplesmente me ocorreu: eu deveria fazer o papa."

Mas, diferentemente da figura manipulada por Pablo Xavier, há outros casos preocupantes e possivelmente devastadores, que podem até prejudicar o sistema democrático e influenciar as relações globais. É o exemplo das fotos geradas da prisão de Donald Trump. As imagens foram produzidas por Eliot Higgins, criador do Bellingcat, um coletivo independente de pesquisadores, investigadores e jornalistas cidadãos. Ele divulgou o trabalho e tudo começou a circular como se fosse verdade.

Ambas as imagens, geradas por IA, levantam a preocupação sobre como identificar veracidade em figuras artificiais. Ao mesmo tempo, existem outros usos que vão se tornar parte da nossa rotina e nos tornarão verdadeiros copilotos da tecnologia.

Você já gastou horas montando um relatório de resultados no PowerPoint? Ou talvez tenha passado um dia inteiro analisando uma planilha com dezenas de milhares de informações sobre clientes e compras? E um bom tempo procurando um pedido de autorização de viagem no Google?

Agora imagine se, em todos esses cenários, você tivesse a ajuda da IA. Bastaria digitar em uma caixa de texto o comando que fosse necessário, seja no PowerPoint "criar uma apresentação de resultados"; no Excel "analisar essa planilha pra mim" ou no Word "elaborar esse documento, por favor?", que você teria um modelo pronto do que precisa em poucos minutos (e talvez segundos).

É para esse caminho de copiloto que as inteligências artificiais estão indo. Nós, que não temos capacitação científica para treinar modelos de IA, vamos inventar maneiras criativas de usá-las, exatamente como a pessoa que, no começo do artigo, juntou dois aparelhos distintos e realizou uma função original, pilotando ambos.

Hoje em dia as IAs já são usadas para criar imagens, vídeos, tradução, conversões de texto em áudio, áudio em texto e teremos ainda mais ferramentas de produtividade nos próximos meses e anos. Não é por acaso que a Microsoft está lançando o Microsoft 365 Copilot; e o Bing e o Google, na corrida para combater o ChatGPT, já integraram IA aos seus buscadores.

Além disso, imagens geradas, se bem usadas, poderão reduzir muito os custos de produção. A Nvidia e a Adobe estão em parceria com a Shutterstock e GettyImages - dois dos maiores bancos de imagem do mundo - para criar fotos generativas, a partir de textos. A Adobe também está incluindo sua ferramenta de geração de imagens (Firefly) integrada ao Photoshop, Illustrator e Premier.

Quando colocamos todas essas frentes em perspectiva e olhamos sob um prisma mais amplo, nota-se um movimento de automatização e de colaboração entre humanos e IA's. Entretanto, ficam os questionamentos: como isso vai mudar as relações de produtividade? Como poderemos nos colocar à disposição para tarefas mais significativas? Precisaremos ser mais críticos com notícias e imagens que consumimos?

Na última semana de março de 2023, mais de mil líderes do setor de tecnologia no mundo elaboraram uma carta solicitando a pausa do desenvolvimento das inteligências artificiais por pelo menos seis meses até que saibam os impactos do seu uso ou que se crie uma regulamentação para segurança do desenvolvimento e utilização das IAs na medida em que ficam mais poderosas.

O meu olhar é esperançoso e otimista diante desta revolução, mas, para manter esse otimismo, caberá a muitos de nós nos adaptarmos a este novo ambiente e descobrir como podemos também nos beneficiarmos. A próxima geração que ingressará no mercado terá intimidade o suficiente para explorar, no nível máximo, esse novo modelo de trabalho como pilotos ou treinadores de IA's usando-as de maneiras inimagináveis.

De todo modo, convido todos a explorar, testar e aprender e a não temer a revolução, vendo a IA como uma ameaça, mas, sim, como uma ferramenta de amplificação de nossos potenciais.

Não é moda! É uma tendência, que ditará como todos os atores da indústria da comunicação trabalhará nas próximas décadas. Nesta nova configuração, a inteligência artificial é a simbolização prática do ideal popular de futuro, como aqueles recursos robóticos em que assistíamos nos episódios de "Os Jetsons".

O futuro já começou e o IA não poupará ninguém.

Giordi Pasqualon é head de digital solution da Convert Digital Business + Performance