O conceito de Economia dos Criadores não é novo - ele apareceu pela primeira vez em 1997, a partir de uma análise feita por Paul Saffo, professor de tecnologia da Universidade de Stanford; mas essa é outra história. Podemos dizer que a consolidação desse mercado como conhecemos hoje aconteceu no Brasil há pouco tempo, mas com muita força. O alto número de criadores de conteúdo que existe no país (segundo pesquisa da Nielsen, são pelo menos 500 mil pessoas com base acima de 10 mil seguidores) somado ao ímpeto que o brasileiro tem em seguir e consumir o que personalidades da internet postam e indicam, coloca nosso país como um dos terrenos mais férteis para evolução, profissionalização e inovação dentro da creator economy. E, como dizem as influenciadoras raiz dessa internet, vem novidade por aí.

Profissão creator
Em primeiro lugar, chamo atenção para dados que mostram que o avanço da profissionalização dos criadores já é uma realidade no Brasil. A pesquisa Creators e Negócios, realizada em conjunto pelo Youpix e agência Brunch, diz que para 34,6% dos respondentes, as atividades como criador são sua única fonte de renda, número que dobrou em relação a 2021 (16,8%). O mesmo estudo mostra, ainda, um claro aumento na formalização da profissão: os 23,7% de criadores sem empresa aberta caíram para 18,1%. Estima-se, ainda, que a Economia dos Criadores movimentou cerca de R$ 6.5 bilhões no ano passado, de acordo com a CB Insights.

Nesse sentido, torna-se cada vez mais relevante que os criadores entendam as infinitas possibilidades que têm de consolidar e evoluir seu posicionamento e negócio na internet. É essencial, por exemplo, trabalhar com especialistas que possam otimizar conteúdos de vídeo para busca. Com cada vez mais jovens usando TikTok como mecanismo de busca, principalmente no que diz respeito a tutoriais, dicas gastronômicas e entretenimento, e o YouTube já sendo o terceiro maior buscador do mundo, adaptar os conteúdos de acordo com as plataformas e suas mudanças ajuda não apenas na relevância dentro da rede, mas amplia as possibilidades de monetização e ganho de audiência.

A era da exclusividade acabou
Por muito tempo, marcas contaram histórias com a ajuda de criadores de conteúdo contratados com exclusividade, ou seja, que trabalhavam com um único player de cada setor dentro de um período de tempo específico, limitando suas possibilidades enquanto creators. A audiência, porém, está cada vez mais treinada (e por que não, acostumada?) a identificar discursos genuínos, entender que a publicidade faz parte do trabalho dos criadores que acompanham e, mais do que nunca, questionar suas escolhas. Nesse sentido, as marcas começam a entender que, assim como no dia a dia, usamos diferentes marcas de vestuário, frequentamos diferentes restaurantes e testamos inúmeros serviços no nosso dia a dia. Assim, vimos multiplicar as possibilidades para contratados e contratantes.

Cocriação como centro
A tal da cocriação se transforma em um dos pilares mais relevantes na economia dos criadores. Muito se fala sobre engajamento e comunidades na internet, e vejo a criação conjunta entre marcas e creators como um dos componentes mais fortes dessa fórmula. É extremamente importante que mais marcas deem espaço para que os produtores de conteúdo criem narrativas que podem se conectar melhor com sua audiência para que haja, de fato, um diálogo que conecte as contratantes com seu público-alvo.

Posicionamento multiplataforma
Há três motivos importantes para um criador atingir todas as plataformas digitais possíveis: crescer a base de seguidores, uma vez que há pouca sobreposição de público entre as redes; potencializar a receita gerada; e se tornar menos vulnerável às mudanças nas plataformas que estão fora do nosso controle. O YouTube, por exemplo, é uma das plataformas mais utilizadas em todo o mundo. No entanto, essa popularidade tem outro lado da moeda, que é a concentração de conteúdo em uma única rede, assim como  uma produção e adaptação de conteúdos que não acompanha a velocidade das mudanças de algoritmo ou novas ferramentas lançadas dentro das próprias redes sociais. Temos, inclusive, um exemplo bem recente, de quando o próprio YouTube liberou no Shorts, seu canal para vídeos curtos, a possibilidade de comprar itens nos EUA, Índia, Brasil, Canadá e Austrália, permitindo que os influenciadores marquem seus próprios produtos durante os vídeos. Ou seja, foi desbloqueada uma nova forma de fazer receita, e muitos influenciadores se viram rapidamente incentivados a iniciar ou potencializar sua produção de novos formatos de vídeo para uma mesma plataforma.

Nesse sentido, trabalhar em parceria com um especialista em inteligência artificial, análise de dados e edição cuidadosa de conteúdos, como a Jellysmack, é essencial para que seja possível apostar em um posicionamento sólido e personalizado em mais de uma plataforma. Gabriel Bruno é um excelente case de sucesso. Em um ano, o criador que experimenta comidas e conhece restaurantes ao redor do mundo teve um crescimento de mais de 683 mil seguidores em sua página do Facebook após passar a alimentar a plataforma adaptando os conteúdos que produzia para o Youtube, que sempre foi sua rede social prioritária. Jaqueline Guerreiro, que faz sucesso nas redes sociais falando de true crime, observou um crescimento de 781 mil seguidores utilizando da mesma estratégia ao longo do último ano - adaptando conteúdo do Youtube para o Facebook.

Além da publi
O criador agora pode desbloquear formas de monetizar sua carreira simplesmente trabalhando diretamente com as plataformas, sem intermediários, por exemplo, através da venda de produtos autorais, como cursos e mentorias, assinatura de newsletters ou conteúdos exclusivos, live shoppings ou venda de itens de merchandising e monetização de vídeos através de anúncios (o famoso ads) - disponível inclusive no Facebook e não apenas no Youtube. Inclusive, vale lembrar que o Facebook é uma das redes sociais com políticas de monetização mais sustentáveis e vantajosas para criadores de conteúdo. Acredito que veremos esse mindset avançar exponencialmente no próximo ano, substituindo a ideia de que para fazer dinheiro na internet é preciso atrelar a imagem dos creators a muitas marcas ou produzir um volume alto de conteúdos e publicidades para conquistar independência e estabilidade financeira.

Ainda devemos ver muitas outras tendências aparecendo e se consolidando como modus operandi da creators economy no próximo ano. Mas arrisco dizer que os pontos acima merecem olhares atentos por parte das marcas, dos profissionais criadores e das agências de comunicação e agenciamento.

Paula Haefeli é líder de Brand Marketing da Jellysmack para a América Latina