Dois estados cujos nomes se iniciam com Rio viveram realidades distintas nos últimos dias. No Rio de Janeiro, a rainha do pop Madonna fez seu megashow, que encerrou a turnê ‘Celebration tour’, levando mais de 1,5 milhão de fãs ao delírio nas praias de Copacabana.

A 1.500 km dali, o estado do Rio Grande do Sul começava a viver uma experiência desastrosa, com chuvas torrenciais e uma inundação histórica, que afeta a vida de milhões de gaúchos.

Na cidade do Rio de Janeiro, a população se esqueceu por instantes as suas mazelas para viver a histeria dos fãs apaixonados pela superstar. Estima-se em mais de 300 milhões de reais a movimentação econômica gerada pelo megashow da estrela.

No Sul, os recursos necessários para reconstruir as cidades afetadas pelas enchentes serão certamente muito maiores. Sem falar na perda de vidas e na tristeza de famílias destroçadas pela tragédia.

Eventos tão contrastantes trazem, cada um deles, isoladamente, outros contrastes dignos de registro.

A solidariedade e a generosidade de muitos, que se mobilizam para minimizar a dor dos irmãos gaúchos, contrastam com a malandragem absurda daqueles que geram as fake  news e contas falsas para doação, desviando atenção e recursos tão importantes neste momento.

Nossa indignação não deve, porém, sobrepujar a admiração por todos aqueles que se mobilizam para ajudar. São tantos os exemplos positivos que nos fazem ter esperança por um povo mais sensível e empático, frente às adversidades.

Lá no Rio de Janeiro também há destaques positivos a serem destacados. Primeiro, o próprio fato de tratar-se de uma sexagenária (Madonna tem 65 anos) a fazer tanto sucesso e mobilizar pessoas de todas as idades.

Vale ressaltar também a diversidade expressa no seu show, incluindo artistas de cores, tipos e inclinações diversas, com destaque para o universo LGBT+, que a considera sua musa.

Os mais conservadores certamente torcem o nariz para as cenas mais fortes, de cunho sexual, mas devemos nos acostumar com a liberdade e a rica multiplicidade de expressões próprias de uma cultura diversificada, de muitos matizes.

O nosso país, como um todo, é marcado por contrastes.

Alguns deles totalmente indesejados, como a desigualdade existente, que faz apenas 1% de afortunados deterem 63% da riqueza total do Brasil, segundo a Oxfam.

Somos um dos países mais desiguais do mundo, infelizmente. Negros (pretos e pardos) são maioria na população, mas são minoria nas universidades e nos postos de trabalho, principalmente em cargos de liderança.

Mulheres são maioria no Brasil, mas também ocupam menos posições de liderança do que os homens nas empresas e nos governos.

São contrastes que não nos orgulhamos e devemos combater com ações afirmativas, visando a neutralizar essas diferenças o mais rápido possível.

Mas não podemos deixar de destacar também o outro lado da moeda: a diversidade cultural do nosso país, com a riqueza da miscigenação e das migrações, sejam elas de estado a estado ou daqueles advindos de outros países, que nos fazem vivenciar expressões artísticas tão lindas e variadas, de norte a sul, de leste a oeste.

Os tantos quilômetros de praia, contrastando com cerrados, montanhas e florestas. O calor do norte, se contrapondo ao frio do sul. O Boi Bumbá do norte e o Balaio, do sul.

Toda essa diversidade nos faz um povo especial, mas que precisa de suporte, principalmente de educação, para alcançar condições humanas mais dignas e menos díspares.

Os contrastes são bem-vindos, desde que restritos às manifestações culturais e traços físicos. Aos nossos irmãos do sul, enfim, toda a nossa solidariedade para que superem essa catástrofe absurda o mais rápido possível.

E que continuem a nos encantar com a sua rica cultura. Não tá morto quem peleia!

Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br