Murakami, em entrevista ao The New York Times, afirma que, se não fosse a música, ele não seria o escritor que é. Em seus livros, fica claro essa relação yin e yang (música e escrita) e por que só iniciou a carreira de escritor depois de ter, por muitos anos, um bar de jazz.
Particularmente acredito que a mente precisa entrar numa certa frequência para que se sinta liberada em assumir outros papéis e pontos de vista criativos. Para criar, geralmente, utilizo os mantras eletrônicos do Chemical Brothers, Fat Boy Slim, Kraftwerk ou trilhas sonoras eletrônicas de alguns filmes (Sound Tracks) como ‘Blade Runner’, por Vangelis, ou ‘Interstellar’, com Hans Zimmer.
Até mesmo a atmosfera dos diálogos vinda diretamente dos filmes e a emoção da interpretação dos atores leva a gente para longe. Antes de apresentações muito importantes eu ouço ‘Tragedy’, dos Bee Gees. Ou algo dramático e alto.
Quando estou completamente perdido na busca de resolver algum problema, tentando encontrar um caminho, cercado de diversas encruzilhadas, ouço ‘Also Sprach Zarathustra’, com arranjo do Eumir Deodato. Os discos que ele gravou lá fora são geniais.
Nina Simone, quando perco para a distração e naquele dia que dá tudo errado: “Ain’t got no I got life”.
Quando quero pensar ao contrário do que ando pensando, para saber se tem alguma ideia escondida ou uma estratégia melhor esperando ser descoberta, ouço a banda Morphine, ‘Cure for pain’. Mark Sandman, baixista americano da banda, toca apenas com 2 cordas e sem técnica de baixo, mais parece uma guitarra Havaiana. Isso fica ótimo junto com baterista e saxofonista e com a voz de barítono bêbado.
Para dirigir rumo ao interior de São Paulo, ouço anos 1970, soul music. Um pouco de pop anos 1980: Tears for Fears, Depeche Mode, New Order e, pra quebrar um pouco o ritmo, o disco mais recente dos Tear for Fears, ‘Tipping Point’, que sem dúvida tem algo que faz falta hoje em dia, composições originais atuais.
Em alguns dias, depois das 17h, ligo meu amplificador Gradiente Modelo Pro 2.000 MK2, antiquíssimo, com caixas JBL Studio, e ouço algo na categoria
de memória afetiva de uma época que os sonhos eram maiores do que as possibilidades. A afetividade está no fato de, hoje, podermos olhar com complacência para trás e entender aquela versão romântica de nós próprios.
Em alguns domingos, antes do almoço, ouço samba. Bezerra da Silva cantando que o malandro é malandro e Mané é Mané, contando a história do Defunto caguete, saudando as favelas. Chico Buarque, com ‘Geni’, ‘Construção’. Em dias nublados e frios, provoco com Dalto, Peninha, Bethânia e Tim Maia, com ‘Leia o livro’ e ‘Universo em desencanto’.
Sábados à noite? Celso Fonseca, com ‘Slow Bossa Nova’, Hanoi Hanoi, Fausto Fawcett, e qualquer música de Hyldon e qualquer disco com arranjos de Lincoln Olivetti e Liminha.
Passeando com os Moses e Toy no sábado e domingo de manhã, mudo a programação para um podcast ‘Its only fucking advertising (IOF)’, com Aaron Starkmann, CCO da Rethink do Canadá e ótimo entrevistador da nossa indústria com convidados de muito conteúdo.
Para correr não ouço nada, tentando me conectar com a respiração, com o momento e acabo pensando que uma playlist assim deve deixar os algoritmos completamente confusos. Mas, qual a sua playlist?
Flavio Waiteman é CCO-founder da Tech and Soul
flavio.waiteman@techandsoul.com.br