Tenho lido versões inglesas de jornais chineses e mesmo jornais escritos em chinês, me utilizando de tradutores. É interessante o foco dessa mídia em dar notícias boas. Todos os dias a população chinesa é convidada a compartilhar das conquistas do país nas mais diversas áreas.
São as descobertas científicas, alcançadas em laboratórios de universidades; são os avanços tecnológicos que levam a aperfeiçoamentos na produção de alimentos; são as ações comunitárias que contribuem na evolução da qualidade de vida nas cidades...
Nenhuma linha é perdida para qualquer tema que não sirva para a sustentação de um estado de ânimo positivo e de um moral elevado nas pessoas. Por certo tempo, aceitei a tese de que essa praxe dos países comunistas servia para, através do enaltecimento exagerado de alguns fatos, mascarar as consequências das grandes deficiências do sistema. Em alguns casos e em alguns momentos, isso é verdade.
A censura e a manipulação da informação sempre foram clássicas nos regimes autoritários, à esquerda e à direita. Existe uma diferença, no entanto, entre censura e manipulação da informação e a aplicação de um certo bom senso regulatório.
E não se trata apenas de controlar a difusão de fake news ou de discursos de ódio, mas de compreender o poder da informação como promotora de estados mentais. A mídia brasileira se sustenta num permanente “modo escândalo”.
Ou seja, a população é diariamente convidada a abalar-se. É assim há tanto tempo e com tamanha intensidade, que se transformou num verdadeiro vício.
As barbaridades buscadas afoitamente nos programas policiais do rádio e da televisão, em horários determinados, agora são garimpadas a qualquer momento nas redes sociais. A desgraça é um grande negócio no Brasil. Não apenas nas ocorrências envolvendo roubos, assassinatos e acidentes, mas em qualquer assunto, da política ao futebol. O pênalti mal marcado, o gol em impedimento e a briga generalizada dentro do campo têm mais relevância do que a bola rolando; as acusações entre membros do parlamento têm mais potencial de audiência do que os projetos de lei que venham a beneficiar algum segmento social.
Não há descoberta científica que consiga emocionar mais do que um estupro de menor de idade. Não há conquista de índice positivo na alfabetização que atraia mais atenção do que um choque entre dois ônibus em uma estrada.
Com isso, se estabeleceu um ciclo vicioso, em que as desgraças moldaram as audiências que, por sua vez, demandam cada vez mais desgraças.
E perde-se o espaço precioso da grande mídia, que poderia estar muito bem contribuindo para a evolução do pensamento do brasileiro e fazendo germinar uma confiança maior no futuro, para a mera prática comercial de “vender” notícias para um consumidor de informação, pautado pela mediocridade.
O interessante é que mesmo aquelas publicações, tidas como mais intelectualizadas, repercutem muito mais quando trazem notícias, resultado do chafurdamento em algum bastidor com potencial de escândalo.
É de se perguntar: quem vai contar o que há de bom acontecendo no Brasil, não importam quais sejam os políticos da vez no poder?
Stalimir Vieira é diretor da Base de Marketing
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