Conheci de perto dois publicitários, a quem a profissão tornou milionários. Na verdade, conheci mais, esse dois, porém, me são emblemáticos.

Embora sejam bem diferentes em suas origens e formas de atuar, guardam uma semelhança determinante para o sucesso que angariaram: a fala fluida e simplória. Perfeita para tocar corações e mentes e mobilizar a média dos seus interlocutores.

Essa habilidade extraordinária, que tanto pode ser da natureza do indivíduo, como pode ser uma artimanha utilizada com inteligência, escapa a muitas pessoas, tidas, muitas vezes, como geniais, ou porque estas estudaram demais ou porque sentiriam vergonha de ter suas imagens associadas a ela.

Ninguém se torna milionário por ser muito bom naquilo que faz, mas, sim, por vender adequadamente aquilo que faz e aquilo que não faz, inclusive. E aí, se torna determinante a fala fluida e simplória. Que traz uma lição importante: vender não é vender-se; vender é entrar em perfeita sintonia com o potencial comprador; não é induzir, mas ser conduzido, não é convencer, mas apoderar-se do raciocínio alheio.

Um desses milionários, a quem me refiro, faz isso intuitivamente, o que funciona muito bem, e substitui com folga a cultura que lhe falta. O outro, embora dotado de muito mais estudo e leitura, usa todo esse conhecimento apenas como instrumento para maquiar, malandramente, a mesma fala simplória.

Ambos se tornaram referências na atividade profissional e empresarial do negócio, ainda que sob algumas críticas, fatalmente oriundas de quem não foi capaz, não quis ou não teve coragem de expor-se como eles se expuseram. Quando o sujeito descobre que pode triunfar, mesmo sob uma chuva de ovos, ninguém mais o detém. Ele simplesmente percebeu que ovos jogados não matam, sequer machucam, no máximo causam algum escândalo para gozo de quem os joga. E pronto, não há preço outro a pagar para alcançar uma bela fortuna.

O fascínio que nutro por essas pessoas é histórico, talvez até por isso, eu, ao longo da vida, tenha me distraído de faturar como eles. A verdade é que ambos são, verdadeiramente, irresistíveis, como artistas do teatro dos negócios. Movido por uma pretensa vocação literária, me encantam personagens assim, descarados – no sentido de olharem acima das críticas, mesmo provindas das pessoas a quem eles respeitam, pois sabem muito bem que, uma vez tornados ricos, milionários, a tendência é esse olhar preconceituoso que receberam desaparecer e, possivelmente, se converter em simpatia.

Talvez saibam eles mais sobre os seres humanos do que aqueles que creem, demasiadamente, que as convicções são portos seguros para o balizamento de retóricas intelectuais.

Terão descoberto, sabiamente, que a imensa maioria das convicções é frágil e tende a enrijecer quando confrontada com argumentos superiores, mas cede com facilidade à equanimidade argumentativa. Alerto que é impossível tentar converter essa compreensão em uma fórmula para ganhar dinheiro.

Essas coisas só funcionam para quem sempre foi assim. Só quem sempre foi assim, aprendeu, na prática, como se faz. A gente, no máximo, se diverte admirando.

O que, pra mim, é um baita lucro.

Stalimir Vieira é diretor da Base de Marketing
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