Leio um estudo da McKinsey que demonstra um paradoxo: de um lado, um país com 12 milhões de desempregados; de outro, uma carência significativa de profissionais qualificados para atender à demanda da transformação digital e dos novos negócios web-based.

O gap é grande: para cada profissional formado em áreas relacionadas à tecnologia, 11 das áreas de administração e direito chegam ao mercado. Os profissionais mais em falta são: DevOps, infraestrutura de TI, automação e IA, designers de UX, cyber, cientistas e engenheiros de dados e desenvolvedores.

Não aparece no estudo da McKinsey, mas, por minha conta, acrescento outras especializações cuja carência é fácil de identificar no mercado de marketing e comunicação. São elas: especialistas em Realidade Virtual, desenvolvedores de soluções do metaverso, gestores de comunidades, planejadores e especialistas de eventos híbridos, entre outras.

Segundo a pesquisa realizada pela McKinsey, envolvendo 1,5 mil executivos de gestão, 87% declararam não estar preparados para lidar com a carência de talentos digitais do mercado.

Dos profissionais de RH, 61% consideram que contratar e reter desenvolvedores será o maior desafio do próximo ano. Há ainda o amplo universo de oportunidades decorrentes do crescimento de interesse pela agenda ESG.

Assim, não só a função específica de gestor ESG, mas a revisão do job description de profissionais de áreas tradicionais é uma demanda contínua.

É o caso do RH, que deve passar por uma profunda reciclagem de conhecimento para estar apto a analisar as novas questões da gestão de pessoas.

Igualdade de gêneros, diversidade e inclusão, flexibilidade de horários e regime de trabalho, remuneração variável condicionada ao atingimento de metas que extrapolam o lado financeiro e abrangem as variáveis ESG, seleção às escuras (sem revelar idade, sexo, cor, raça e aparência no primeiro contato). São novas variáveis que exigem uma constante atualização dos gestores. Depois da experiência bem-sucedida do home office, há ainda a equação presencial X virtual, que exige muita flexibilidade das empresas para não perder talentos. E por falar na retenção de talentos, nem sempre a remuneração é o fator preponderante.

Cada vez mais, outros aspectos estão sendo analisados, principalmente pelos millennials. Os novos profissionais procuram escolher a empresa em que desejam trabalhar com base em critérios que vão muito além de uma boa compensação financeira. E aí a agenda ESG tem peso.

Empresas que praticam uma política de engajamento às questões ambientais, sociais e de governança ética e transparente levam nítida vantagem. Pelo lado das empresas, existe um conjunto de skills que ganham maior peso nos critérios de contratação de profissionais.

É claro que a boa formação e a comprovação de conhecimento para áreas mais técnicas são fundamentais. Mas outros aspectos são considerados na seleção.

Ações afirmativas, privilegiando diversidade, por exemplo, estão no radar das empresas mais empáticas e engajadas. Está provado que um ambiente diverso, respeitoso e inclusivo torna a empresa muito mais atraente, facilitando a contratação e a retenção de talentos.

Por outro lado, criatividade, flexibilidade, facilidade de adaptação, receptividade às mudanças constantes e comprometimento com o resultado são skills buscados pelas empresas antenadas.

O certo é que, na verdade, não falta emprego para profissionais qualificados e ligados às mudanças. Mas o gap de educação no Brasil gerará uma lacuna de 1 milhão de vagas de tecnologia não preenchidas até 2030, se continuarmos no ritmo atual, segundo o estudo da McKinsey.

Outras tantas vagas serão criadas na esteira da crescente adesão das empresas aos princípios ESG, uma vertente que merece atenção de todos. Resumo da ópera do futuro: pleno emprego para quem se qualifica nos skills corretos.

Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
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