Inspiração. Palavra que denota vida. Seja pelo significado da ação, o ato de inspirar ar. Seja pelo sentido figurado, o de se encher de uma força que leva à criação de algo. Às vezes a gente só precisa de uma música. Às vezes, de um amor. Às vezes, de um exemplo. Às vezes, da mistura de alguns elementos.

Mas eu acredito que exista uma fonte de inspiração que é tão leve quanto o ar que nos mantém vivos. E, para muitos, é difícil descobrir a chave para se abrir para essa inspiração. Também pudera. Vivemos na maior parte das vezes no automático, motivados única e exclusivamente pelos “boletos”.

Aliás, tá aí um detalhe importante: confundir inspiração com motivação. A motivação é o impulso que nos faz agir. A inspiração nos faz criar. Ela é a musa que sussurra no ouvido ideias, formatos, planos, caminhos. Cito musa não à toa. A mitologia grega conta sobre as nove musas, as filhas de Mnemósine – a personificação da memória – com Zeus. Elas inspiravam as criações artísticas e científicas. Foram concebidas, inclusive, com esse propósito: o de permitir a perpetuação de histórias e feitos.

Sendo assim, entendemos a importância da inspiração. É ela que vai permitir a criação de algo que vai deixar uma marca. Seja na sua vida, na dos seus ou até mesmo para a humanidade.

Mas voltemos à fonte dessa tal inspiração. Parei para pensar no que me inspirava na vida. O que é capaz de me provocar boas ideias e ações. Como foi difícil, ao menos pra mim, detectar a fonte de inspiração - e não de motivação. Muitas coisas fazem eu me mexer e agir. Mas precisei cavar fundo para descobrir o que me inspira.

Até que entendi que é a própria vida que me inspira. Sim, a vida me inspira na vida. Ver as coisas acontecendo ao meu redor. Ver as pessoas se movimentando. Viver momentos alegres. Ou rever momentos alegres. Passar por dificuldades. Observar o que dá certo e o que dá errado. Pensar. Descobrir coisas. Ter insights. Conversar. Ver um filme. Parar e fazer nada.

Outro dia acordei às 6h da manhã e me arrumei para ir para a academia. Não ia dirigindo, pedi um Uber. Enquanto estava na porta do meu prédio, esperando o carro, senti a brisa gostosa da manhã. Um sol leve batendo nas árvores. Olhei pro lado e vi uma mãe caminhando de mão dada com a filha, a levando para o colégio. Vi gente indo pro trabalho. Vi os que iam cuidar do corpo, antes de cuidar do resto da vida. Aquilo me encheu o peito de um jeito diferente. E é isso que eu acredito que seja a inspiração.

Ela liga as melhores turbinas do nosso cérebro. A inspiração nos deixa atentos, nos acorda pra vida. E, por isso, ela é tão especial. Eu não fiz força. Ver a vida acontecendo, ali, logo no começo do dia, foi fundamental para deixar claro muito do que eu precisava entender naquela segunda-feira.

Tem a lufada de ar, que nos enche o peito e nos mantém vivos. E tem a lufada de luz, que nos abre os olhos e clareia a mente. Traz à tona dores e sabores. Expõe aquilo que compõe o que precisa ser dito, escrito e criado, naquele momento.

A inspiração é sábia. Ela ilumina aquilo que precisa ser mostrado, naquele instante. Ela traz foco e fluidez, como um canhão de luz na direção de um palco. Ela conduz nosso olhar para o que precisa aparecer.

O que me inspira na vida é a própria vida. É contemplação do caos urbano, da beleza da natureza, de um bichinho se mexendo, do meu marido trabalhando, dos meus pais brincando com a minha filha, da minha filha dormindo.

E você? O que te inspira na sua vida?

Cecília Flesch é jornalista e apresentadora do RivoNews