Foi numa aula à noite de direito comercial no curso de direito do Mackenzie, com 22 anos, que meu pai teve a ideia de iniciar o propmark. Não imaginou, naquele momento, o jornal que é hoje. Ele tinha ido trabalhar no jornal Diário Popular com a missão de estruturar o departamento comercial, pois o DIPO vivia basicamente da venda de classificados e o desafio era ter anúncios de grandes varejistas. Mas os publicitários não liam o Diário Popular, o que o impedia de estar no radar das agências ao fazerem o planejamento de mídia de seus clientes. A ideia, então, foi criar uma coluna semanal sobre o mercado publicitário com foco no portfólio das agências e no talento dos publicitários. A primeira coluna saiu em 21 de maio de 1965 e foi um sucesso, agitando o mercado com conteúdo quente e polêmico.

O Diário Popular passou a circular nas agências, conquistou os anunciantes que, até então, lhe eram refratários e o Armando, com muita paixão e tenacidade, fez da sua coluna em pouco tempo uma página, duas páginas, até se transformar num suplemento de propaganda e marketing, nome que adotou quando meu pai saiu do Diário Popular em 4 de maio de 1984 e não pôde levar consigo o nome ‘Asteriscos’. Não raras vezes, profissionais em início de carreira, como Washington Olivetto, iam até a sede do Diário Popular nas manhãs de sábado para encontrar o Armando fechando o ‘Asteriscos’ e tentar emplacar dentre as notícias uma menção aos jobs a ele mostrados. Meu pai costumava atender pedidos desta natureza, pois defender a atividade publicitária brasileira sempre foi natural a ele e virou o DNA do propmark.

Lembro-me de uma vez, em visita à outrora sede da DM9 na Vila Olimpia, o saudoso Affonso Serra dizer-me que meu pai era, na verdade, um grande advogado da causa publicitária. Disso nunca me esqueci e guardei o recado. Quando precisou mudar de nome e de casa, meu pai se socorreu ao grande Mauro Salles, amigo de todas as horas, que o ajudou a levar o ‘Asteriscos’ para a Gazeta Esportiva e sugeriu sabiamente ao meu pai não entrar em imbróglios jurídicos por causa do nome, e passasse a usar ‘Caderno de Propaganda & Marketing’, e assim foi feito.

Anos mais tarde, o caderno passou a ser encartado na Folha da Tarde, até adquirir distribuição própria em 1997, ainda no formato “jornalão”. Em 2007, Pascoal Fabra Neto lançou a ideia de usarmos o nome “propmark”, que em 1998 havia batizado o site do jornal. Meu pai, quando viu o projeto gráfico apresentado pelo próprio Pascoal numa tarde na sala de reuniões da Editora Referência, deu um murro na mesa de euforia e seus olhos brilharam. O layout encantou a todos os presentes, e com ele não foi diferente. O nome propmark passou a ser o logotipo do jornal coexistindo com a denominação “Jornal Propaganda & Marketing” abaixo em tamanho reduzido.

O passo para a mudança do formato standard para berliner e em papel couchê já foi mais vagaroso. Meu pai sabia que o propmark ganharia em qualidade gráfica, mas seu amor pelo chamado formato “jornalão” o impedia de mudar. Até que em 2015, com a ajuda do nosso ex-diretor comercial Renato Resston, conseguimos convencê-lo. De novo a mãozona deu o murro na mesa e obtivemos o sinal verde para seguirmos em frente. Daí partimos para a compra de uma segunda impressora gráfica para imprimirmos internamente o propmark no formato berlinense e no papel couchê, momento também de grande euforia do meu pai, que contagiou a todos na empresa.

Com seu jeito mais italiano que seus quatro avós que da Itália vieram recomeçar a vida em São Paulo, meu pai sempre empenhou emoção em tudo. Dos editoriais viscerais, nas palavras da nossa editora-chefe, Kelly Dores, ao jeito de administrar e tratar todos como uma grande família. É a ele os meus parabéns. Graças ao seu talento e bastante coragem de empreender, hoje o propmark completa 60 anos ciente de que, a cada semana, precisa manter a ousadia e o frescor da notícia que o marcaram desde o nascimento.

Esse texto foi escrito excepcionalmente por Tiago Ferrentini