Os produtos, as marcas e até alguns momentos históricos têm conceitos naturais, que nasceram com eles. Os eventos não ficam atrás, tendo na boca do povo sempre um carimbo conceitual que traduz o que as pessoas em geral - e todas juntas - consideram a verdade dos fatos.
Assim, a Copa de 82 foi a injusta, onde a melhor seleção, a mais encantadora, não venceu. O primeiro RiR foi o raiz, o da lama, o verão de 87, no Rio de Janeiro, foi o da lata.
Todos esses conceitos nasceram nas ruas, não precisaram ser criados, apenas captados.
Os Jogos Olímpicos de Paris, mesmo antes de terminar, já eram, para nós brasileiros, as Olimpíadas das mulheres. Em particular da Rebeca, claro, mas fundamentalmente das mulheres.
Este conceito começou a aparecer logo no início, nas transmissões esportivas, em posts e papos de almoço.
Com o Ouro da Bia Souza e o Bronze por equipes no judô, se reforçou. Com a Rebeca ganhando Ouro depois daquela Prata que já era linda, virou verdade.
Verdade confirmada pela cena de Simone Biles e Jordan Chiles reverenciando a Rebeca no pódio, que até o museu do Louvre postou dizendo que deveria pendurar na parede a imagem icônica.
Logo depois veio a Prata no surfe, com a Tatiana Weston-Webb, que poderia ter surfado por outros países, mas escolheu o Brasil, país onde nasceu de pai também surfista britânico, para representar.
Ainda por cima, foi criada no Havaí, mas ainda assim escolheu defender as cores verde e amarelo nos Jogos de Paris.
São histórias como essa, com requintes de detalhes, que só vão aumentando sua capacidade de emocionar.
E para provar que o roteirista brasileiro desta Olimpíada está inspirado, temos ainda a seleção brasileira de futebol. Essa é uma história à parte.
Começamos claudicantes, jogos ruins, nossa maior e mais lendária jogadora expulsa, parecia que nem íamos passar da primeira fase.
Passamos por conta de ser o melhor terceiro lugar, parecia que ia dar ruim, mas eis que fizemos um jogo épico contra a campeã do mundo – Espanha.
Fizemos quatro gols e ainda enfrentamos um inacreditável acréscimo de 15 minutos, sem nenhum motivo aparente, dado pela juíza pra ver se dava tempo de a Espanha empatar.
Foi um tempo inacreditável de prorrogação, mas a nossa seleção confirmou a vitória e vai disputar a final com os Estados Unidos.
E como diria aquela propaganda antiga, mas não só isso: a postura em quadra de nossa seleção feminina de vôlei, e as várias demonstrações de simpatia, de alegria e de uma nova forma de encarar as rivalidades - deixando elas só para o momento da competição - de nossas atletas de um modo geral, e também as de atletas de outras nacionalidades, mostram uma maturidade nunca antes vista.
Então, não adianta alguém querer carimbar outro conceito nessas Olimpíadas, ele já foi criado a milhares de mãos, nascendo quase sozinho entre locutores, papos de bar e grupos de WhatsApp.
Infelizmente, nem sempre os produtos e serviços têm conceitos tão claros, simples e naturais, fosse assim nosso trabalho seria bem mais fácil.
Mas vale a pena escavar até encontrar a verdade das marcas, desenvolver criativamente e devolver ao consumidor na forma de uma comunicação simples, emocionante, verdadeira.
Gustavo Bastos é owner da 11:21
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