Recentemente pousei no Rio e, quando o avião tocou o chão, me dei conta de que não vi o Pão de Açúcar. Não porque o avião tenha pousado pelo lado “errado” do Santos Dumont, mas, simplesmente, porque escolhi usar os 45 minutos de voo para desfrutar da oportunidade de organizar uma caixa de entrada em que trocentos e-mails se empilhavam há dias.

E me pergunto o que teria feito mais pelo meu dia: a glória de uma caixa zerada – ainda que isso não fosse se manter real no primeiro contato com wi-fi – ou a oportunidade de contemplar uma das paisagens mais estarrecedoras do mundo, impossível de se acostumar mesmo para quem voa o trecho frequentemente?
Em tempos de economia da atenção, será que não estamos fazendo escolhas pobres em termos de algo tão rico?

Quantas trocas de história perdemos vidrados em telas e com a audição que se isola no fone?

Com o que estamos deixando de alimentar a nossa subjetividade, mãe das ideias e insights?

Noto que, especialmente no mercado publicitário, a pressão para estar não só a par como à frente de tudo é constante.

A campanha nunca antes feita é a expectativa “simples” que se coloca a cada novo briefing.

E, assim, o banheiro é otimizado para responder o WhatsApp, atividades cotidianas como lavar a louça viram tempo para ouvir podcasts (afinal, precisamos também estar sempre atualizados!). Ou seja, vamos tratando tudo como tarefas, até absorver algo novo e motivador. O que deveria ter o papel de informar, entreter, inspirar nem sempre funciona como tal.

Para falar sobre inspiração, penso nessa capacidade de atenção e retenção cada vez mais reduzida, lutando pela sobrevivência em uma atmosfera onde somos bombardeados por informação e fingimos estar adaptados a isso.
Há menos de 20 anos, a internet ainda era discada e os computadores não saíam conosco de casa, muito menos sonhávamos tê-los na palma da mão.

Como tudo na vida, é preciso processar, e o nosso HD às vezes não atualiza os sistemas com tamanha precisão.

Recomendo fortemente, antes que as ideias se mostrem repetitivas e cansadas, sem conseguir sair do lugar, corramos – literalmente – para as montanhas. Ou para praias, cachoeiras, pedras, qualquer lugar onde possamos respirar e dar um refresh.

Ao nos desconectarmos da necessidade de estar ligados e performando o tempo todo, nos conectamos com o que nos torna melhores: a capacidade de abstrair, de sentir livremente, criar pontes e laços imagéticos e imaginários que nos fazem enxergar o que não está diante dos olhos, as soluções não óbvias que tanto buscamos entre infinitas reuniões em que estamos de corpo presente e WhatsApp bombando.

Ao menor sinal de ideias embaralhadas, recorramos à calmaria de contemplar, seja o silêncio, seja o som alto de uma música que coloque o corpo para dançar pelo sentir, seja o Cristo Redentor dando tchau de longe pela janela do avião.

Fernando Sahb é head de social e influência da Galeria.ag