No mês de agosto de 2020, o varejo brasileiro conheceu um novo player. O Grupo Nós, uma joint-venture entre a Raízen (leia-se licenciada da marca Shell), e a Femsa, empresa que lidera o comércio de conveniência e proximidade na América Latina.

Quando o negócio foi concretizado, a expectativa era de crescer rápido, mas não tão rápido, dada a dificuldade de se encontrar os melhores pontos pequenos pelos principais bairros e ruas das grandes cidades. Precisava do fator sorte. E esse fator manifestou-se, pandemia, liberando e tornando acessível milhares de muitos dos melhores pontos dessas cidades. E assim, o Nós cresceu, prosperou, e acelera mais do que o previsto no início. A senha é ocupar espaço.

Em seu manifesto de decolagem o “Nós” posicionava-se, “o Grupo Nós nasce com a responsabilidade de liderar o mercado brasileiro de conveniência e proximidade e ser reconhecida como a rede mais confiável do mercado, se tornando uma forte marca empregadora com potencial de gerar milhares de empregos. Vamos entregar conveniência, agilidade e rapidez, qualidades que resultam em um item valioso: o tempo”.

Assim, e enquanto o “Nós” cresce, prospera, avança, o grupo varejista espanhol Dia deixa o Brasil depois de amargar centenas de milhões de dólares de prejuízo. Apostou num modelo errado – que quando chegou poucos se deram conta disso – midi supermercados – acreditando em acessibilidade pelo preço, localização, e abrindo mão de marcas e variedades –, ignorando o crescimento brutal do delivery, e outras manifestações semelhantes de fracasso, como um Barateiro, comprado pelo Pão de Açúcar, e convertido em Compre Bem.

O Nós segue acelerando. O alvo deste semestre é o Vale do Paraíba, onde sua marca de rua, Oxxo, pretende abrir 30 lojas. Essa nova rede começou por Campinas em dezembro de 2020, hoje já são mais de 500 lojas, em 17 cidades no estado de São Paulo.

No momento do mundo e das grandes e principais cidades, o fator tempo é mais que decisivo, o Nós, através de suas lojas nos postos Shell, e Oxxo, nas ruas, posiciona-se para conquistar parcela significativa do mercado de proximidade em nosso país. Deus segue ajudando quem cedo madruga, e a sorte está do lado dos que planejam com sensibilidade e precisão.

Enquanto isso, desertificação, e prosperidade.

Para quem ainda tem alguma dúvida para que direção caminha o futuro, ou, para onde venta o vento, é suficiente olhar e ver o que acontece com o comércio de ruas, e como andam os negócios dos armazéns logísticos. O comércio de rua mergulhou num processo irreversível de abandono e desertificação. Algumas das principais ruas das maiores cidades do Brasil, e do mundo, também, com o maior vendaval de Aluga-se, ou Vende-se, ou Passa-se o Ponto da história. Enquanto isso os chamados armazéns logísticos multiplicam-se numa velocidade maior que a dos coelhos.

Uma das grandes empresas desse território, a GLP – multinacional que tem sua sede em Singapura, investirá, entre 2024 e 2026 no Brasil para a construção de novos armazéns logísticos, a quantia de R$ 2,1 bilhões.

Armazéns esses que já estão encomendados e serão locados, mais de 80% deles, às empresas do comércio eletrônico. Hoje, a GLP já é a maior empresa desse território. Possui 13 parques logísticos com mais de 30 galpões. Dos atuais 3 milhões de m², de hoje, para 4 milhões de m² em 3 anos.

E cada vez mais, e para atender à necessidade de competitividade de seus locatários na Moeda Tempo, procura reduzir esses armazéns para uma distância 50% menor – de 30 para 15 quilômetros dos grandes centros de consumo...

É isso, amigos. Só as pessoas absolutamente alienadas e desprovidas de um mínimo de juízo e sensibilidade revelam-se incapazes de definir para onde caminha o comportamento da humanidade, especialmente nós, brasileiros, em nossos hábitos de compra, e a dimensão dos desafios a serem enfrentados pela desertificação das chamadas ruas de comércio, e, em paralelo, pelo abandono das torres de escritórios. Enquanto o chamado VAG – Varejo Analógico Guerrilheiro – cresce e prospera.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing
fmadia@madiamm.com.br