As marcas não estão imunes às críticas e à responsabilidade sobre o impacto do descarte de seus produtos na natureza, especialmente no Brasil, onde a gestão de resíduos ainda é precária e os programas de coleta seletiva não estão amplamente implementados.

Uma solução frequentemente adotada é a utilização de produtos e embalagens biodegradáveis. A ideia por trás disso é que esses materiais se decompõem naturalmente no meio ambiente por meio de processos biológicos. Dessa forma, na teoria, eles não acumulam resíduos persistentes no solo, na água ou no ar, reduzindo assim seu impacto negativo no meio ambiente.

No entanto, é importante ressaltar que o termo “biodegradável” se refere a um material que é degradado por atividade biológica, porém necessita de condições especificas para a sua compostagem, o que nem sempre acontece. Isso nos leva a questionar se os produtos biodegradáveis são realmente uma solução ambiental ou apenas mais uma forma de maquiagem verde, conhecida como greenwashing, que ocorre quando empresas ou marcas afirmam ter ações e práticas ambientalmente sustentáveis, quando na realidade suas atividades são prejudiciais ao meio ambiente.

Um problema relacionado é que nem todos os materiais biodegradáveis são adequados para decomposição em aterros sanitários. Além disso, mesmo quando descartados corretamente, os materiais biodegradáveis vão liberar gases de efeito estufa durante o processo de decomposição, contribuindo para o aumento das emissões desses gases.

Um exemplo preocupante são as sacolas plásticas biodegradáveis, que podem levar anos para se decompor completamente. Um estudo realizado na Inglaterra revelou que sacolas plásticas biodegradáveis ainda estavam intactas três anos após serem enterradas no solo e no mar. Isso levanta dúvidas sobre a eficácia desses produtos na redução da poluição plástica.

É importante destacar que o conceito de biodegradabilidade vai contra o princípio da economia circular, que enfatiza a reutilização de materiais por meio da remanufatura, reciclagem, reutilização e regeneração da natureza. Em vez disso, o processo para tornar um material biodegradável envolve uma série de etapas, energia e produtos químicos, dificultando e encarecendo o que deveria ser o objetivo de todos: a reciclagem e a reutilização dos materiais.

O maior aliado ambiental para qualquer marca é incentivar seus consumidores a fazerem o descarte correto de seus produtos. No entanto, o conceito do biodegradável pode dificultar o engajamento do consumidor em adotar uma atitude ativa e responsável em relação ao descarte dos produtos e embalagens, uma vez que a comunicação enfatiza que eles não causam danos à natureza. Isso pode ser considerado uma incoerência em termos de educação ambiental do consumidor.

Em um mundo onde a preocupação com a sustentabilidade e a redução do impacto ambiental é cada vez maior, as empresas e seus departamentos de marketing devem ser claros e transparentes em relação aos materiais utilizados em seus produtos, além de compreenderem os benefícios ambientais reais que oferecem.

Além disso, é crucial alinhar a eficiência econômica e ambiental em todas as etapas do ciclo de vida de um produto, a fim de reduzir o desperdício e maximizar o valor dos materiais utilizados ao longo de todo o ciclo. Esses conceitos, todos baseados na economia circular, podem ser os melhores aliados para as empresas aumentarem a eficiência de seus negócios, ao contrário do material biodegradável que, mais do que uma solução ambiental, parece ser apenas uma forma de greenwashing.

Ricardo Esturaro é escritor, administrador de empresas e especialista em marketing, estratégia e sustentabilidade
ricardo@esturaro.com