Fazendo publicidade, consegui convencer muitos jovens, no auge da Aids, a usarem camisinha e a salvarem suas vidas em campanhas para o Ministério da Saúde.Mesmo numa idade quando a força de todos os hormônios os puxavam para o lado contrário. Eu me orgulho muito disso. Criando mensagens publicitárias, consegui reunir argumentos para que o Congresso votasse contra a publicidade na indústria do cigarro. Não foi algo muito popular na época para meus colegas de profissão e mercado em geral, mas precisava ser feito. Os números de novos fumantes em baixa estão aí para atestar que foi efetiva e importante mudança.

Sendo publicitário e trabalhando muito, consegui pagar as contas de casa. Criar as minhas filhas e consegui também fazer com que as empresas para as quais trabalhei tivessem sucesso suficiente para gerar postos de trabalho e renda para tocar o dia a dia. Sou muito grato a São José por ser publicitário. Assim como o meu amigo Paulo Coelho, rezei sempre a São José para não faltar trabalho. Deu certo. Em 30 anos, parei apenas alguns dias. E não é sobre trabalho, mas vocação.

Nos dias difíceis, chorei muito e esquecia tudo no dia seguinte, voltei ao trabalho. Nos dias muito felizes, comemorava muito naquele dia e esquecia tudo no dia seguinte. E retomava o trabalho. Ser publicitário para mim tem sido um deslumbre diário sobre o poder das palavras transformando vidas, empresas e destinos. Sou extremamente grato porque na publicidade encontrei função para a minha dislexia. Só na publicidade, criando estratégias de marketing e comunicação, eu teria a atenção que tenho hoje de quem se formou no MIT, Harvard, ou de quem ergueu legados notáveis, com os quais, adoro colaborar.  Empresas e empresários relevantes com milhares de funcionários que precisam tomar decisões estratégicas importantes ouvem aquele garoto de São José do Rio Preto. Essa é uma das felicidades de ser publicitário. Fico feliz em colaborar com negócios que estão na elite nacional, sem ter herdado um nome na porta, ou por ajuda de algum investidor.

Sendo publicitário, consegui criar uma carreira, e mais, colocar dezenas de pessoas que trabalharam comigo em algumas das principais agências do mundo, em cargos de liderança: NY, Lisboa, Dubai, Los Angeles etc. etc., além de ter colocado algumas centenas no mercado nacional, que é um dos melhores do mundo. Não consigo pensar em outra profissão, pois se na juventude desejava ser músico, sendo publicitário gravei e gravo com maestros importantes. Na fase em que prestei cinema na USP, sem nunca ter ido para a segunda fase, não imaginava que seria possível durante um ano ser responsável por mais de 200 materiais filmados pelas melhores produtoras do país e seus diretores. E fazer isso constantemente nos últimos 20 anos.

E quando não parava de digitar na minha Remington reformada, presente de 15 anos, pensando em me tornar um escritor relevante, preciso admitir que foi na publicidade que encontrei o respeito pelas linhas que produzo todos os dias. E muito bem pagas por sinal. Essa poderia ser apenas a minha história sobre publicidade e marketing, na data que comemoramos no dia 1º de fevereiro, mas acredito que nessas linhas retrato milhares de histórias parecidas com a minha. Publicitário tem disso. Não faz nada sozinho e não anda só também. Publicitário, sim, graças a Deus.

Flavio Waiteman é CCO-founder da Tech and Soul
flavio.waiteman@techandsoul.com.br