Esta foi minha pergunta ao time de Press do festival. Tentei entrevistar o diretor do festival, Simon Cook, mas não conseguimos fechar a tempo para esta edição.

Sabemos que o megafestival se importa com a questão. Afinal, há anos, os palcos do Palais e os espaços alternativos do entorno recebem palestras e workshops dedicados a temas relacionados com as questões socioambientais, DE&I, ética e transparência.

Nas categorias de premiação, há um bom espaço para inscrições focadas nas questões ESG.

Por exemplo, a categoria Glass: the Lion for change, que completa 10 anos e amplia representação de gênero para incluir raça, deficiência e interseccionalidades.

Há também a categoria SDGs (ODS), que premia iniciativas criativas que abordam os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU.

A antiga categoria Social & Influencer, este ano, passa a se chamar Social & Creator, valorizando a voz dos criadores de conteúdo com foco em impacto social e inclusão, destacando a importância da representatividade.

De uma forma transversal, envolvendo todas as categorias, organização solicita ainda que todas as inscrições incluam relatórios não obrigatórios sobre emissões de CO₂ (segundo o Ad Net Zero) e detalhes sobre a diversidade das equipes por trás dos projetos.

E, este ano, o festival criou o Equity, Representation & Accessibility (ERA) Pass, reforçando seu compromisso com a equidade oferecendo €2 milhões em inscrições gratuitas para talentos de regiões sub-representadas, com foco no Global South, pessoas com deficiência e outras comunidades diversas.

Minha intenção era dar mais espaço para os organizadores falarem das suas iniciativas em ESG.

Afinal, o festival já foi alvo de protestos contra inscrições relacionadas a empresas da indústria de petróleo, por exemplo, tendo seus palcos invadidos por representantes do Green Peace. Foi também criticado por não dar espaço relevante para palestrantes e jurados negros.

Tudo isso ganha relevância crescente nos grandes eventos. Os frequentadores que pagam inscrições querem se certificar que a organização leva em conta os princípios de responsabilidade socioambiental e de transparência que lhes são caros.

E que tais princípios estejam presentes em todas as ações do evento. Nas minhas perguntas, constava a gestão de resíduos: gostaria de saber se os resíduos gerados pelo festival têm coleta e destinação apropriada – afinal, o evento ocorre à beira mar, invadindo praias.

Pelo que conheço de Cannes, há um cuidado claro com esta questão. Já mergulhei nas águas das praias junto à Croisette e posso afirmar que não há poluição aparente.

Mas não temos informações claras de como o evento lida com essa questão. Outro ponto que me interessava era saber se o festival procura compensar sua pegada de CO₂.

Um evento dessas dimensões, com a participação de estrangeiros de todos os continentes, tem uma pegada de CO₂ significativa.

Há compensação?  Os participantes são estimulados a compensar a sua pegada de CO₂? E me interessa saber também se há causas sociais, benemerentes, apoiadas diretamente pelo festival. A criação do ERA Pass é uma bela iniciativa. Há algo mais pelo lado social?

Infelizmente, não houve tempo  para obter estas respostas, mas ficaremos atentos aos relatórios do festival para identificar tais informações.

Por que tudo isso importa? Primeiro, porque o Cannes Lion é um megaevento e, como tal, deve se preocupar com o seu impacto socioambiental. E segundo – e mais importante – porque é um festival dedicado à Criatividade e Inovação, atributos de extrema importância para se criar um mundo mais justo, inclusivo e sustentável.

O evento abre caminho para tendências. E o que mais queremos é que a atitude ESG faça parte dos planos de todos aqueles que fazem a gestão criativa de empresas e instituições.

Por isso, estamos de olho!

Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br