O que me inspira, quando falta inspiração.

Há algumas semanas, me vi em uma fase em que nada surgia. Nenhuma ideia fora da caixa, nenhuma solução brilhante. Era como um atacante que não marca há 20 e tantos jogos no campeonato. Falta de inspiração total.

Então, decidi refletir sobre isso.

Segue o fio...

Ser um profissional de criação traz uma responsabilidade implícita: a de ser criativo. Não existe a opção de não ser. Caso contrário, você corre o risco de estar fadado ao fracasso e facilmente ser descartado nesse mercado cada vez mais competitivo e impaciente diante dos briefings e desafios do dia a dia.

Acordar e dormir inspirado todos os dias se torna quase uma obrigação. E, convenhamos, chega a ser ingrato. Não importa quanto repertório ou tempo de carreira você tem, tem momentos que não tem mais coelho pra sair da cartola.
Em outras áreas, a criatividade é um bônus, um diferencial bem valorizado, mas não uma exigência constante.

Um padeiro que não é criativo ainda consegue fazer pão.
Um mecânico que não é criativo continua a consertar carros.
Um dentista que não tem uma mente criativa ainda realiza suas obturações.
Mas, para você, profissional de criação, o cenário é diferente. Experimente acordar sem inspiração para ver o que acontece.
É o título impactante que não surge...
É o conceito que não encanta ninguém...
É aquela sacada publicitária que não aparece...
É o key visual que nem o seu pet acha bonito.
E aí, você se pergunta: e agora?

Já tentou de tudo. Saiu para espairecer, assistiu a um episódio aleatório de uma série, reviu os cases premiados de Cannes, mas nada parece desbloquear a mente.

Esses momentos, por mais desconfortáveis que sejam, geralmente me fazem olhar pra dentro e lembrar por que eu escolhi esse caminho. Às vezes, não tem jeito, a melhor coisa é se permitir parar, dar um tempo, deixar de lado a pressão de criar, e aproveitar esse vazio – que hoje em dia soa quase como transgressor – pra se reconectar com tudo que te faz brilhar os olhos e que, um dia, te fez escolher estar exatamente onde você está hoje.

Eu costumo dizer que trabalhar com criatividade é não ter clareza sobre como as coisas começam e menos ainda sobre como elas terminam. Mas, já parou pra pensar em como isso pode ser divertido?

Nosso negócio é uma folha em branco a cada novo briefing, e essa é a magia da história.

Essa é a maneira como procuro encarar os desafios aqui na Bunch: com coragem para arriscar e não ter medo de errar. Criar exige ousadia (e diversão) para enxergar além do que todo mundo já vê.

Então, meu colega criativo, nos dias em que faltar inspiração, encare isso como parte do processo. Em vez de lutar contra, que tal aceitar que isso faz parte do jogo? Tem dias em que as coisas simplesmente não vão fluir, e tudo bem, até o ChatGPT tem seus dias de pouca inspiração, e olha que ele é uma máquina! Já você, não.

Relaxe, mas não muito (risos), uma hora a bola vai entrar e as ideias vão sair.

André Marques é diretor de criação e sócio-fundador da agência Bunch Mkt & Growth