Estive recentemente na Califórnia para participar do Zeitgeist, evento anual do Google que reúne cabeças pensantes de várias áreas; como jornalistas, cientistas, economistas – e uma pequena plateia de pessoas de vários países e setores da economia, como eu. Os temas discutidos eram globais, com implicações sociais e, invariavelmente, com  IA  na pauta. Teve também uma apresentação que muito me tocou, envolvendo cinco tipos de riqueza, mas vou deixar para contar no fim deste texto.

Falou-se muito do impacto da inteligência artificial na saúde, na mídia, na economia, no viés geopolítico (do poder das democracias) e da segurança (China apontada como uma ameaça à soberania dos EUA, surpreendendo zero pessoas). Sobre o papel do Estado, quando o assunto era regulação, todos defenderam que o governo deve manter uma "mão leve" no controle. Sobre dinheiro, ventilou-se a possibilidade de uma “bolha” da IA, como foi a bolha da Internet na virada deste século. Se estivermos como em 1996, ainda teríamos quatro anos antes de estourar. Agora, se estivermos como em 1999….outra semelhança é que nestas disrupções, a população costuma consumir muito e investir muito.

Para quem trabalha com marketing e tecnologia, como eu, O Zeitgeist aponta para  a mudança da data economy para decision economy. Ou: o valor não está mais apenas em possuir dados, mas em como essa informação é processada na tomada de decisões. Para sobreviver nessa nova era de exuberância quântica, empresas precisarão de estruturas mais fluidas, ciclos de feedback instantâneos e líderes com capacidade de pensar como cientistas — testando, ajustando e recalibrando em tempo real.

E se a IA faz tudo, menos sentir, como liderar times e cobrar performance sem se tornar um chefe obtuso e insensível?  A tese é: na medida em que os dados deixam de ser comodities e o pensamento analítico é facilitado, o diferencial humano volta a ser julgamento, empatia e propósito. “We don’t need more intelligent machines; we need wiser humans” para mim é a frase-síntese recorrente do evento, ecoando falas de Walter Isaacson (escritor e jornalista) e Condoleezza Rice (ex-toda poderosa do governo Bush).

E em meio a uma plateia sem pobres – no máximo alguns habitantes do sul global, como eu – chamou minha atenção a palestra de um autor best-seller que fala dos cinco tipos de riqueza elencadas por ele. Sahil Bloom é filho de mãe indiana e pai norte-americano, e contou que cresceu inseguro, se achando pouco inteligente, levando-o a buscar soluções externas para um problema interno: ou “o caminho mais tradicional para o que se parece com uma vida de sucesso". O bônus, a promoção, o título.

Seu ponto de virada foi em 2020, quando um amigo disse que ele só veria os pais mais 15 vezes, já que morava em outro Estado e só os visitava uma vez ao ano. Com essa provocação, percebeu que embora estivesse ganhando o jogo externamente, internamento tudo estava em desordem. Assim como grande parte da sociedade, usava o dinheiro como a única forma de medir o valor de uma vida. Ele então introduz um novo placar, construído após conversar com milhares de pessoas, baseado no conceito sueco de "lagom":  apenas a quantidade certa ou suficiente.

Os cinco tipos de riqueza para Bloom são: 1) Riqueza de Tempo, sobre a liberdade de escolha; 2) Riqueza Social, dos nossos relacionamentos; 3) Riqueza Mental, como propósito e crescimento pessoal; 4) Riqueza Física, de saúde e vitalidade; e 5) Riqueza Financeira, a ferramenta que não pode ser o objetivo final de uma vida.  E ele encerra dizendo: “os bons e velhos tempos estão acontecendo agora." Por essas e outras, quero ser rico.

Marcel Desco é Chief Marketing & Technology Officer da Yduqs