Vou te contar um segredo. Quando soube que ia escrever nesta edição comemorativa, resolvi ir aos meus arquivos e vasculhar o que andei escrevendo por aqui durante 30 dos 60 anos completados pelo propmark.

Fiquei dois dias folheando pastas onde a Luzia, minha secretária, guardava — envoltas em plástico — folhas de papel sulfite em que ela colava os artigos recortados do jornal.

Eu nunca tinha me dado ao trabalho de fazer essa pesquisa. Ao final, já exausto e pigarreando a clássica poeira de antigos guardados, ainda sentado no chão, me recostei na parede.

Fiquei, então, me perguntando: quem foi o mais louco? Eu, por ter escrito certas coisas, ou você, por tê-las publicado?

Isso me levou a pensar, com carinho e reconhecimento, que você foi — e continua sendo — o meu maior editor.

Em que pese eu tenha alguns livros publicados, o fato é que ninguém publicou tanta coisa escrita por mim quanto você.

Mas você fez mais: abriu espaço, em um veículo focado no segmento mais sensível à crítica que existe, para um sujeito opinativo, independente, rebelde, desaforado e implacável em suas críticas.

Alguém que não poupou agências, anunciantes, fornecedores, mídias, entidades associativas e a quem mais julgasse merecedor de um juízo severo.

Não é intrigante?

Refletindo um pouco mais e, ainda, sob o impacto de alguns textos (que hoje me arrepia perceber que foram publicados), fui percorrendo uma qualidade de pensamento — verdadeiro veio que leva a uma mina de ouro, para alcançar uma percepção que me iluminou a mente.

Meu querido Armando, atrevo-me a dizer que, inconscientemente, eu dialogava, através da escrita, com o jornalista-raiz que você traz dentro de si, e que precisava conviver em harmonia com o homem de negócios. Ambos dotados de um talento extraordinário.

Ah, imagino as lutas que se travavam entre esses dois a cada coluna controversa. E o quanto o homem de negócios teve de aguentar de ligações queixosas ou malcriadas de quem se sentia atingido por julgamentos negativos ou ironias cruéis, por causa da fidelidade do jornalista-raiz às suas origens.

É muito gratificante quando a gente percebe que, em algum lugarzinho decisivo das nossas consciências, há um alinhamento de ideais que faz com que aquele que tem o poder de proibir prefira exercer o poder de permitir — sob sua inteira responsabilidade.

Graças a atitudes nascidas dessas decisões soberanas, tive tempo e espaço para construir aqui alguma reputação como pensador do nosso negócio. Formei admiradores e também desafetos, o que é absolutamente natural quando se tem a oportunidade de expressar livremente o que se pensa.

Não poderia, portanto, deixar passar a oportunidade desta edição comemorativa para agradecer. Agradecer a você o espaço, a paciência, a tolerância, a lealdade.

E agradecer a motivação que, semana sim, semana não, eu sinto cada vez que a nossa querida Kelly me lembra pelo WhatsApp que “essa semana é sua”.

Stalimir Vieira é diretor da Base de Marketing
stalimircom@gmail.com