Independência 200 anos ou 100 anos de rádio? Vamos falar dos 100 anos do rádio. Adoro rádio. Em qualquer plataforma.
Rádio atual, travestido de arquivo de YouTube com imagens; misturado com podcast e inclusive no carro em frequência modulada.
Quem já ouviu uma transmissão de rádio por um daqueles valvulados de móveis dos anos 1950 entende o que estou falando. O som atingia você pelo diafragma e depois entrava pelos ouvidos.
Nasci no rádio e no rádio me criei durante muito tempo. Dos 17 anos até os meus 25 foi de onde tirei o meu sustento e acabei conhecendo ali o que era agência de publicidade e redação publicitária.
No segundo colegial, no Monsenhor Gonçalvez, escola pública de São José do Rio Preto, estudava o Alexandre, filho do diretor artístico da Rádio Stéreo Show FM. O Sorroche Neto, que achou que tinha jeito pra coisa e me ofereceu as madrugas de fim de semana da rádio Stéreo Show.
De sexta para sábado e de sábado para domingo assumia os controles da rádio, naquele aquário clássico das emissoras da época. Fazia o que faz hoje um DJ, alternando músicas entre duas pick-ups. Milhares de pessoas ouvindo. Eletrizante.
Na época, década de 1980, a palavra DJ, disk jockey, já era antiga, pois fora muito usada 20 anos antes, na Rádio Nacional, a FM carioca que foi a mãe de todas as
outras FM.
Eu me apaixonei pra sempre por rádio e música. O som na técnica sempre foi profissional e com aquele grave que vale cada centavo que uma rádio podia pagar, não eu, naquela época. Durante todo o tempo que trabalhei em rádio me perguntava que sorte a minha por ter acesso a jornais, som de primeira e novidades em vinil vindas do mundo todo. Muita sorte.
Durante um tempo cobri algumas madrugadas sem falar nada, apenas colocando música em vinis brilhantes e encartes que eram verdadeiros quadros.
Nas cartucheiras com fitas magnéticas colocava as vinhetas de identificação da Stéreo Show FM entre um bloco de músicas e outro. Tudo coordenado, coreografado, mas ao vivo. Muito parecido com uma performance.
Sempre adorei esse nome, Stéreo Show! Aliás, conheci recentemente um outro ótimo nome de emissora: a Kaboing FM, também de São José do Rio Preto.
Depois de algumas semanas trocando música nas pickups, me autorizaram a falar alguma coisa ao microfone, o famoso prefixo ZYD, o nome da rádio e mais algumas coisas. Vício.
Trabalhei em várias emissoras, como a Rádio Diário FM de Ribeirão Preto, também de madrugada, enquanto cursava jornalismo na Unaerp; Rádio Menina Olímpia, depois de abandonar a faculdade; Independência FM; Metropolitana Diário FM, de Mirassol; e outras.
Logo depois de um tempo migrei de rádio para agência. Mas sempre gostei muito de criar para rádio.
Criei o primeiro Leão de Rádio do Brasil, um de Bronze, produzido por Paulo Garfunkel e Jean Garfunkel, da Insonoris. Uma música antitabagista lançada como música de verdade, um rap: Pergunte Por quê! E tocou muito nas rádios do país.
“Pergunte por que, pergunte por que, a indústria do cigarro tá querendo você.”
Ouço rádio até hoje e acredito até que os podcasts são os programas de maior sucesso no Brasil porque simulam e evocam o rádio.
Rádio é perfeito para o Brasil com longas distâncias e essa verborragia do gutural português fluindo através de fonemas melódicos italianos e franceses.
O Brasil é metade paixão e metade som. Por isso comemoremos efusivamente os 100 anos de rádio. É o que todo o Brasil pode comemorar unido nesse momento.
Flavio Waiteman é CCO-founder da Tech and Soul
flavio.waiteman@techandsoul.com.br