Não importa qual o segmento ou tamanho do negócio. Não faz diferença se é para aprovar um conceito, uma campanha ou apenas numa conversa profissional. Um dia vai aparecer na sua frente uma encruzilhada com duas placas apontando em direções diferentes com dois destinos claros. De um lado “sucesso” e de outro “razão”.

A maioria vai ser humilde/simpática e dizer que escolhe sucesso. Mas o ser humano é repleto de surpresas e não sabemos onde o ego e a autoindulgência podem nos levar. Uma das histórias mais emblemáticas sobre razão versus sucesso, é a do voo da Varig, o 254, no dia 3 de setembro de 1989. Existem livros, vídeos, entrevistas do piloto Garcez e do copiloto Zille sobre o tema. Aliás, esse conteúdo deveria ser estudado em escolas de administração e comunicação.

Qual seria o sucesso de um voo? O bom senso nos fala que seria decolar no ponto A e pousar em segurança no ponto B. Sendo que o que acontece no meio do caminho é até discutível, que seria a razão. Mas levar em segurança os passageiros seria um sucesso quantificável. Nesse voo específico, que ia de Marabá a Belém, alem da tripulação estavam 54 pessoas a bordo. A duração da viagem seria de 50 minutos.

Após uma hora de voo, a cidade de Belém e suas luzes de cidade grande não eram ainda avistadas pela tripulação. Nesse momento, a investigação do Cenipa e o áudio da caixa-preta do avião mostraram que o piloto foi avisado inúmeras vezes pelo copiloto que estavam seguindo na direção errada. A cada tentativa do copiloto, havia uma contra ordem, um “cale a boca” do piloto. Mesmo diante do fato claro havia uma negação da situação de risco que estavam vivendo. Mas por quê? Bem, depois de duas horas voando perdidos sobre a Amazônia e com o copiloto tentando convencê-lo de que deviam pedir ajuda, o avião cai na noite da floresta. Pousaram sobre a copa das árvores. No momento da queda, morreu um passageiro. Nos três dias subsequentes morreram mais 12 pessoas que se feriram, até o resgate os salvar. Nas entrevistas com o piloto, que sobreviveu, ele sempre culpou o plano de voo onde o destino de Marabá na linguagem da aviação era 027 e no plano de voo veio escrito 0270. A razão do piloto estava numa vírgula fora do lugar, independentemente do resultado trágico.

Ele também não soube explicar por que se recusou a pedir ajuda quando já estava sem combustível, o que atrasou o resgate e provocou a morte de mais 12 pessoas. A chave para explicar essa atitude veio do copiloto, que disse à investigação que a preocupação do piloto no momento era ter a carreira afetada se ele pedisse ajuda pelo rádio, afinal seria admitir um erro de navegação. Ou seja, se o avião caísse, ele poderia atribuir a culpa à vírgula do plano de voo. E foi em frente em busca da sua razão. Veja, anos de técnica, preparação acadêmica, inteligência, inclusive, articulação social e preparação emocional para pilotar uma máquina de milhões de dólares não foram suficientes para que o piloto entendesse que salvar as pessoas seria mais importante do que admitir que estava errado. Ele condenou diversas pessoas a morte porque isso seria menos doloroso pra ele do que admitir o erro?

Outro ponto que concluí, a meu inteiro julgamento, por tudo que li, é que ele se recusava a aceitar que um copiloto pudesse ter razão. Foram várias as chances de ter sucesso no voo, que ele desperdiçou. Mergulhando nesse case fascinante vi uma entrevista definitiva do copiloto dizendo que se arrependia de não ter sido mais incisivo com o piloto no início do voo, logo que descobriram o erro. E o piloto Garcez, em entrevista posterior ao acidente, se recusava a assumir qualquer erro sobre a tragédia.

Querer ter razão é endorfina. Querer o sucesso é disciplina. Lembrando que você mesmo pode formatar o que é ter sucesso e o que é ter razão. Mas, geralmente, sucesso é aquilo que você combina com o mundo, com seu bom senso e valores e, depois, cumpre a sua parte. Mesmo sendo contrariado. E razão, é aquele sentimento de prazer pessoal momentâneo de lacração e de quase nenhuma inteligência. O que você prefere de verdade?

Flavio Waiteman é CCO-founder da Tech and Soul
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