E depois de anos de discussões, debates, propostas, e infinitos remendos, chegou ao Congresso a proposta de regulamentação da reforma tributária. E por melhores que fossem as intenções, e necessidade dramática e inadiável de simplificação, escolheu-se o caminho errado. Tentaram trabalhar simultaneamente forma, processo e conteúdo, e deu no que deu. Chega ao Congresso totalmente deformada, onde prevalecem exceções de toda a ordem.

O mais óbvio, natural, sensível e moderno caminho a ser adotado era, em primeiro lugar, converter o regime tributário vigente, por mais injustiças e equívocos que contenha, a todas as possibilidades que a tecnologia hoje coloca à disposição dos Estados modernos. Sem mexer em tributos, alíquotas e tudo o mais. Apenas preocupando-se na racionalidade e simplificação.

Se procedido dessa maneira, a primeira parte da reforma já estaria aprovada e em execução, na medida que não tratava do mérito, nem aumentava e nem diminuía a carga tributária de qualquer setor de atividade. Independentemente de justas ou injustas, era assim que o país vinha trabalhando e as empresas já estavam acostumadas. Ou seja, na primeira etapa todos, sem exceção, se beneficiariam da mais que bendita, abençoada e desejada simplificação.

Terminada essa etapa, uma comissão permanente, com o apoio de consultorias externas contratadas, entrando no varejo da reforma. No estudo de cada cadeia de valor específica, e procedendo a todas as correções necessárias. Ou seja, aí, sim, corrigindo injustiças.

Todos dizem – e estão certos –, que mais de 50% dos benefícios da reforma, para ser modesto, decorrem exclusivamente da simplificação. E assim, em 2 ou 3 anos, essa etapa já estaria concluída. E, depois, sim, mergulharíamos no mérito, justiças e injustiças de cada cadeia de valor.

Mas, decidiu-se fazer os dois movimentos simultaneamente e deu no que deu. Aumentou a confusão, multiplicaram-se as dúvidas, maximizaram-se as inseguranças, e passaremos os próximos anos discutindo as exceções, em prejuízo monumental às regras. Quando se escolhe o método errado é nisso que dá. Hoje o aguardado projeto chega ao Congresso com 24 anexos de exceções. Por enquanto...

Querida, encolhi os tratores...

E aí, de novo na Folha, uma matéria singela, no conteúdo, e devastadora, no sentido, entendimento e decorrências. Diz a matéria, assinada por Marcelo Toledo, que cobriu a visita de Lula à Agrishow, no domingo, dia 28 de abril: “Mundo dos tratores abre espaço para carro voador, robô e drone...”.

Lembram de Theodore Levitt, que nos anos 1960 incendiou o mundo com seu artigo na Harvard Business review, Marketing Myopia, e onde alertava a todos que, “não compramos produtos, compramos os serviços que os produtos prestam”. De certa forma, já no título, é o que revela a matéria assinada por Marcelo. Na agricultura, “animais novos” que prestam melhor os mesmos serviços”, vão anunciando o encurtamento no tempo de vida dos animais que só prestavam esses serviços caminhando sobre roda e pela terra com infinitas limitações.

Diz Marcelo, repetindo o que Levitt disse há 70 anos atrás: “Setor que outrora era predominantemente dominado por tratores, colheitadeiras e implementos, o agronegócio agora divide o espaço no campo também com equipamentos como drones, robôs e aviões agrícolas, mas e até mesmo um carro voador se faz presente na Agrishow...”. Pior, ou melhor, o carro voador exposto na feira, o eVtol 216-S, da empresa chinesa Ehang, além de voar, não precisa de piloto...

Deu pra entender? Aproveite o exemplo e faça uma reflexão profunda sobre o seu negócio. Mais cedo ou mais tarde desembarcará a sua frente um concorrente que presta o mesmo serviço que sua empresa presta, através ou não de um produto, e colocará seu negócio no corner... Como nas lutas de boxes. Faça você esse movimento, antes que um concorrente o faça. Ainda dá tempo... Os tais dos carros voadores ainda levam mais alguns meses para chegar... eu disse, alguns meses...

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing
fmadia@madiamm.com.br