Escrevo essas linhas no final de minha participação do SXSW 2024, depois de mergulhar em muita inovação e tecnologia.

Albert Camus disse sobre o mito de Sísifo, que a pedra que ele levava para o alto da montanha e ao chegar lá, rolava de volta para a base, se referia a condição
humana de buscar significado em um universo sem sentido.

Quanto mais leio, vejo e entendo a tecnologia, acredito que a pedra de Sísifo é o celular nosso de cada dia e a tecnologia que vem nos cercando ao redor.  Primeiros os algoritmos, avôs malandros das inteligências artificiais, sabem tudo sobre nós.

Conhecem nossos horários e desejos íntimos. E nos manda fazer coisas o dia inteiro, e obedecemos. Pra gente se tornou, não a janela, para o mundo, mas seu alçapão. Entender a tecnologia e suas consequências sem regulamentá-la é subir com a pedra nas costas para o alto da montanha. Inútil.

Quem não regulamenta o que pode te controlar, só obedece. Discutiu-se também, nesse evento, sobre o fim da democracia, sobre as inteligências artificiais que podem a qualquer momento criar fatos e imagens reais sobre coisas que nunca aconteceram.

Mas para a grande maioria das pessoas, tudo bem se isso acontecer. Nem parece que, no passado, um presidente americano precisou renunciar por uma mentira que disse em uma questão eleitoral. Esse mundo não existe mais.

Pesquisas em ressonância magnética mostraram que muitas das mesmas áreas do cérebro que são ativadas durante a percepção sensorial também são ativadas durante tarefas imaginativas. Ou seja, somos propensos a confundir a realidade com imaginação. Muito mais que um chiste ou um acaso, o ser humano cria imagens em sua mente e luta para torná-las realidade.

Somos seres sonháticos. imaginativos. Somos vulneráveis demais. Sempre acreditamos em histórias como abdução por alienígenas, movimentos de pirâmide, crenças regionais, a loira do banheiro (lembra do filme da Gillete?), e essa capacidade imaginativa, que era uma possibilidade criativa e evolutiva, se tornou uma das grandes ameaças hoje.

Os surtos psicóticos coletivos ganharam escala global. A distorção da realidade que permite a uma equipe se superar e criar algo inovador, por ter uma visão de mundo, é a mesma que nos traz agora a uma realidade completamente tenebrosa da política no mundo.

Quem vive realidade paralela, acredita que o outro vive em realidade paralela. E as paralelas nunca se encontram, você sabe.

Entre uma palestra ou outra, abro minha pedra de Sísifo no site da Space X e acompanho o lançamento 3 da Starship e do Booster 9.

Sucesso no teste de voo finalmente e, agora, provavelmente em pouco tempo, voltaremos a andar na Lua.

E por que não, em Marte. Pois os lançamentos espaciais terão escala com alto volume e preço baixíssimo. A tecnologia nos abrindo horizontes.

Em devaneios, penso que talvez seja melhor para a humanidade seguir para outros mundos diferentes, afinal, em nossas mentes, nós já vivemos assim.

Flavio Waiteman é CCO-founder da Tech & Soul
flavio.waiteman@techandsoul.com.br