Quando a gente olha para um festival que junta empreendedores, investidores internacionais, 500 palestrantes, mais de 20 mil inscritos de 50 países, um evento que já ajudou, em sua matriz europeia, a alavancar startups que se tornaram unicórnios - quando a gente olha pra tudo isso acontecendo em uma capital não óbvia do Sul Global, é impossível não pensar no principal ativo dos eventos de inovação e criatividade.
Depois de 3 dias mergulhado no South Summit, na novíssima orla do Rio Guaíba em Porto Alegre, ficou claro que o mais importante de estar em um evento como esse é fazer o que não pudemos fazer nos últimos dois anos: circular. Não são só as palestras, os expositores ou os investimentos. Pelo menos não para a maioria das pessoas. E isso não é, de nenhuma forma, desmerecer a importância quanto ao valor gerado para o público e para a cidade.
Circular resume uma série de valores que acumulamos ao participar de grandes festivais. Não me refiro ao networking. Circular significa transitar de cabeça aberta em meio a um espírito coletivo de aprendizado, conexão e busca por novas ideias. É também estar perto dos assuntos do momento e se conectar com temas, termos, preocupações e previsões sobre o futuro. É pensar um pouco sobre tudo isso, mesmo que seja quando estamos no carro, saindo do estacionamento ou lendo sobre a repercussão no dia seguinte.
O conteúdo das palestras em si (ou o desafio de escolher quais assistir), eu me dei conta, é menos importante do que a forma como os títulos delas se interseccionam. Só de olhar a programação já temos um spoiler daquilo que vai estar em discussão nas reuniões das próximas semanas. Não se trata de defender uma visão superficial, ou de ignorar os palestrantes e painéis, mas de captar a essência do que está fervilhando no mundo de hoje. E, depois, talvez em outro evento específico ou em leituras e estudos, se aprofundar em alguns desses tópicos. O conteúdo de qualidade está cada vez mais disponível e acessível, esse não é mais o diferencial dos festivais.
O diferencial é a atmosfera. Até a arquitetura contribui. A escolha do local do South Summit Brazil foi um acerto. Nos antigos pavilhões à beira do Guaíba, em uma área que está sendo revitalizada e devolvida para Porto Alegre, o clima foi de reconstrução, de novas possibilidades, de que estamos no meio de algo importante que está acontecendo.
Estou escrevendo de uma mesinha em um desses armazéns e percebo aqui em volta um público bastante eclético, de todas as idades. A maioria não é do mundo startupeiro. Eu também não sou dessa turma. Mas só de estar aqui no meio, nos sentimos mais próximos da inovação. É uma sensação que provoca a pensar e a se movimentar. E isso tem um valor imenso. Especialmente depois de dois anos em que consumimos muito conteúdo, mas estávamos carentes de espaços coletivos e da atmosfera criativa que testemunhei ao circular entre os pavilhões do cais Mauá.
Zé Pedro Paz é sócio e CCO da DZ Estúdio