A sustentabilidade tornou-se uma variável de negócios essencial para as startups, não apenas como uma responsabilidade ética, mas também como uma estratégia capaz de impulsionar o sucesso a longo prazo em todo o ecossistema de inovação. Ao incorporar a sustentabilidade desde o início em sua cultura e operações, as startups têm a oportunidade de colher uma série de benefícios, desde atrair investidores até construir uma base sólida de clientes. Essa abordagem não apenas contribui para um futuro mais sustentável, mas também promove a cultura da inovação. E essa importância cresce ainda mais à medida que as questões ambientais ganham destaque entre governos, empresas e investidores.

Embora os termos possam variar - greentech, cleantech, ESGtech e investimento de impacto -, as startups dedicadas a melhorar o mundo se destacam aos olhos dos investidores. De acordo com o Global Impact Investing Network, o mercado global de investimentos de impacto está estimado em impressionantes US$ 1,164 trilhão. Essa organização, considerada a mais influente do setor, monitora de perto o desenvolvimento desses investimentos.

Startups que adotam soluções sustentáveis têm a capacidade de desenvolver produtos e processos mais eficientes do ponto de vista ambiental, conferindo-lhes uma vantagem competitiva significativa. No entanto, essa transformação exige uma compreensão profunda das questões ambientais e sua incorporação estratégica em iniciativas de inovação.

O interesse dos investidores, incluindo fundos de capital de risco focados em impacto social e ambiental, tem crescido nos últimos anos. Ter um modelo de negócios sustentável não apenas facilita a captação de financiamento, como também coloca as startups em uma posição atraente para investidores que buscam unir retorno financeiro com impacto positivo no meio ambiente. Outro aliado nesse processo de descarbonização é o Corporate Venture Capital (CVC), que tem recebido atenção nos mercados globais como uma maneira de empresas estabelecidas aportarem recursos e experiência nas startups em sinergia com seus desafios internos.

De acordo com um estudo da consultoria PwC, 76% dos investidores em venture capital (VC) consideram os critérios ambientais, sociais e de governança em suas decisões, e 37% chegaram a desistir de investimentos devido a preocupações com esses parâmetros.

Empresas em todo o mundo estão se adaptando, colocando as questões ambientais, sociais e de governança não apenas como uma consideração ética, mas também como um fator de criação de valor. Globalmente, cerca de US$ 35 trilhões em ativos estão sob gestão de fundos ESG, o que representa 36% do total, de acordo com o Global Sustainable Investment Alliance. Nos Estados Unidos, os fundos sustentáveis totalizam US$ 2,79 trilhões, correspondendo a 7% dos ativos globais sob gestão, segundo dados divulgados pelo Morgan Stanley.

No entanto, no contexto brasileiro, surge um paradoxo. O mapeamento do ecossistema de startups realizado pela Deloitte aponta que as iniciativas relacionadas à governança ambiental, social e corporativa ainda não estão maduras, com 44% das startups ainda não implementando iniciativas voltadas para o ESG e apenas 9,5% apresentam projetos de impacto ambiental em seus negócios. Isso é surpreendente, especialmente considerando que o setor de startups, conhecido por sua sede por capital e espírito inovador, deveria ser um dos mais ativos na entrega de soluções ambientais. Nesse sentido, a necessidade de uma sólida aliança entre startups, sustentabilidade e investimento se torna ainda mais necessária.

Ricardo Esturaro é escritor, administrador de empresas e especialista em marketing, estratégia e sustentabilidade
ricardo@esturaro.com