Lamento, colegas, mas teremos tempos difíceis em nossa luta pela atenção das pessoas. Ninguém menos que o maior marqueteiro do mundo está em ação no Brasil, não para vender algum produto ou serviço, mas para vender um projeto: anistiar Bolsonaro e seus golpistas, demonizar Lula e devolver o poder à direita, em 2026.
Não é pouca coisa, mas ele também não é pouca coisa. Steve Bannon, o cara que pensou toda a estratégia para a eleição de Trump e para a ascensão de boa parte da extrema-direita na Europa, tem um currículo pesado.
Nascido em 1953, construiu sua vida profissional numa combinação poderosa: mídia e política. Roteirista, executivo e estrategista, foi o conselheiro sênior de Donald Trump, durante seus primeiros meses na presidência, em 2017.
Sua experiência mescla, ainda, assuntos diversos, mas todos com alto poder de influência, seja como banqueiro no Goldman Sachs, seja como militar da Marinha americana.
Se prestarmos atenção nas recentes ações coordenadas da extrema-direita brasileira, envolvendo a fuga de Eduardo Bolsonaro para os Estados Unidos, e suas subsequentes ações conspiratórias contra o Brasil, junto às alas mais radicais do trumpismo e do Partido Republicano; as repercussões desses fatos, espetacularizadas em canais de jornalistas brasileiros também refugiados; a promoção de atos públicos em favor da anistia aos golpistas do 8 de janeiro, em que o discurso “terrorista” de Silas Malafaia, conclama os bolsonaristas a se entregarem à “salvação do Brasil”, com direito a efeitos sonoros de suspense, e à repetição de refrões (“ou ficar a pátria livre, ou morrer pelo Brasil”); a invasão e a ocupação da mesa diretora do Congresso por parlamentares aliados a Bolsonaro, logo após a decretação da prisão domiciliar de seu líder, veremos que não são acontecimentos isolados nem estão desconectados uns dos outros.
Tudo isso faz parte de um plano extremamente profissional, sustentado no conceito de “não recuar, jamais!” Ou seja, a cada reação do “inimigo”, dobrar a aposta e demonstrar fervor e disposição de morrer por suas posições.
Esse padrão meio kamikaze aglutina seguidores, suficientemente fanatizados para manter as causas vivas, mesmo nas derrotas.
Não podemos esquecer de que, obedecendo a esse modelo, Trump esteve disposto a levar os Estados Unidos a uma guerra civil, no famoso 6 de janeiro, ocasião em que, ironicamente, uma veterana do Exército americano, que participou da invasão do Iraque e do Afeganistão, foi morta por um guarda do Capitólio, durante a invasão, incentivada pelo presidente republicano.
Graças à firme resistência do Estado americano, a tragédia não escalou. Mas o fato serviu para demonstrar o alto teor explosivo incutido na estratégia.
Desta vez, o job é o Brasil, sob Lula. A nossa democracia leva uma vantagem sobre a dos Estados Unidos: enquanto lá, Trump permanece impune, aqui Bolsonaro está a caminho da cela.
Isso dobra o desafio do marqueteiro, pois para encarar as eleições de 2026, tem de jogar todas as fichas agora, na anistia do ex-presidente.
Pobres dos nossos anunciantes, que precisarão disputar espaço e audiência com todo esse barulho.
Stalimir Vieira é diretor da Base de Marketing
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