A creator economy é um mercado em ascensão e a prova disso é que temos cerca de 20 milhões de creators no Brasil e 300 milhões pelo mundo, de acordo com a Factworks for Meta. Ou seja, cada vez mais as pessoas buscam a criação de conteúdo como profissão. O painel The Past, Present and Weird Future of the Creator Economy no evento SXSW, que assisti presencialmente em Austin, nos Estados Unidos, debate sobre o crescimento, os desafios e as tendências futuras da economia dos criadores de conteúdo.

O painel foi conduzido por Jim Louderback, ex-CEO da VidCon e pesquisador de pautas dessa área, que destacou a evolução da era moderna e o início da creator economy em 1994, quando a internet permitiu que qualquer um publicasse conteúdo sem precisar de aprovação de gatekeepers. Ele mencionou marcos importantes, como o lançamento do YouTube em 2005 e a introdução do programa de parceria da plataforma em 2007, onde foi possível começar a ganhar dinheiro com os vídeos que eram publicados.

Inclusive, dados apresentados no painel afirmaram que o YouTube é consumido de forma regular por 95% dos adolescentes americanos de 13 a 17 anos, e segundo Neal Mohan, CEO da plataforma, a TV é o dispositivo mais utilizado para essa atividade. No entanto, o mercado de mídia está saturado e o crescimento agora é sobre conquistar uma fatia desse mercado. Afinal, todo consumo de vídeo e conteúdo pode se transformar em mais presença de marca e consequentemente ganho de market share.

Hoje em dia, com a força das redes sociais e a variedade de conteúdos que podemos ter acesso com a internet, o formato dos vídeos foi se alterando, com o objetivo de agradar quem assiste. Os vídeos curtos fazem sucesso com a população em geral, especialmente com a geração Z, que possuem de 15 a 29 anos, porque a forma de consumir conteúdos mudou. Isso fez com que os conteúdos curtos se tornassem um sinônimo de hábito de consumo, trazendo uma mudança de impacto cultural.

Analisando este contexto, não há mais volta para modelos de mídia tradicionais, pois a influência digital molda o consumo, o que também se aplica para os criadores de conteúdo em si. Foi afirmado no painel que existem cerca de 27 milhões apenas nos Estados Unidos e que essas pessoas exercem de fato a profissão. Porém, o momento atual é desafiador para os creators, pois estão trabalhando exaustivamente, dado a saturação, para conseguir se destacar e ganhar dinheiro, o que em alguns casos, pode levar ao esgotamento.

De acordo com pesquisa da Patreon - State of Create, 78% dos criadores dizem que o burnout afeta a motivação para continuar criando. E para piorar a situação, vemos que muitas plataformas estão demitindo suas equipes de suporte a criadores. No entanto, apesar da situação não ser favorável, Jim afirmou que agora é o melhor momento para se tornar um creator, pois estamos vivendo uma era de ouro e uma era sombria para os criadores de conteúdo ao mesmo tempo.

Por outro lado, vale destacar que apesar de ser notório a existência de privilégios, nos últimos anos ser um ‘creator’ se tornou verdadeiramente uma profissão e um negócio, e as problemáticas com saúde mental também afetam a classe. Esse cenário reforça a necessidade da criação de novas estratégias para conseguir gerar um equilíbrio entre questões que envolvem desde a monetização, o bem-estar e o suporte aos criadores de conteúdo no longo prazo, como também as discussões de regulamentação.

Além disso, conforme relatado por Jim, a previsão é que até 10% da população mundial se torne creator, à medida em que micro e nanoinfluenciadores ganham força. Ele finalizou dizendo que o próximo grande império da mídia será construído por um criador de conteúdo. Dados da pesquisa “Quem influencia a geração Z?” da Trope (consultoria de geração Z e Alpha da qual sou fundador) em parceria com a Youpix comprovam tal ponto, pois 76% da genZ afirma que trabalharia como influenciador digital.

Com as discussões aceleradas da ‘profissão creator’ como verdadeiro sinônimo de executivos de negócio e a disputa da atenção do YouTube com os streamings e a TV tradicional, soma-se o questionamento: como garantir que esse ecossistema ainda se mantenha sustentável, lucrativo e gerando impacto nos indicadores das companhias, sem que a ponta mais fraca dessa corda - o criador de conteúdo - se perca? Para maior maturidade da creator economy brasileira, é fundamental que os players, anunciantes, agências, criadores e plataformas, debatam juntos essas pautas.

Luiz Menezes é fundador da Trope