Para quem já foi em outros anos, a 39ª edição do South by Southwest (SXSW), realizado na última semana em Austin, no Texas, causou espanto. Maior festival de inovação do mundo, o SXSW é conhecido por ser um lugar de disrupção, onde as tendências tecnológicas estão sempre no foco, sendo que o impacto da inteligência artificial no mercado dominou as discussões nas edições mais recentes. Mas, neste ano, a tônica do evento foi sobre a importância das conexões humanas.

Pode ser contraditório para muitos, porém, o assunto que tomou conta da maior parte das conferências durante os sete dias do festival foi a necessidade de as pessoas se reconectarem no mundo real. Vários especialistas falaram sobre a epidemia da solidão,  um mal que surgiu em plena era da hiperconectividade, mas que por causa disso mesmo nunca nos sentimos tão solitários.

O desafio, agora, é usar a própria tecnologia para tentar ajudar nossa reconexão emocional, com a convergência entre a IA e a humanização. E é aí que as marcas entram no jogo, com a oportunidade de criar experiências autênticas que geram conexões verdadeiras para tirar as pessoas da tela digital.

É claro que teve palestras com assuntos diversos para além do mundo corporativo, como o painel que contou com a participação de astronautas da Nasa, que dividiram experiências vivenciadas durante o treinamento para a missão Artemis II, viagem tripulada de dez dias em torno da Lua que deve ocorrer em 2026.

Mesmo assim, a especialista de missão Christina Koch deu uma pincelada na importância das relações, dizendo que o trabalho em equipe ajuda a enfrentar os desafios e os cenários adversos. Afinal, um pode contar com o outro para tomar as decisões certas.

Já a badalada futurista americana Amy Webb apresentou seu aguardado relatório de tendências tecnológicas emergentes, como a inteligência viva e a convergência entre a IA e a biologia, com os chamados metamaterials (materiais sintéticos), que podem revolucionar a indústria. No entanto, o seu principal recado foi que as empresas devem trabalhar com previsões de cenários futuros para tomar as decisões certas hoje. Segundo Amy, as regras da sociedade como conhecemos começam a se quebrar, porque vivemos uma transição para o que ela chama de conceito beyond (ir além).

O futurista Ian Beacraft falou do paradigma que o mercado atravessa diante das mudanças provocadas pela IA, trazendo o conceito de generalistas criativos, que são os profissionais com habilidades para transitar por diferentes áreas. Segundo ele, é necessário que as pessoas tenham resiliência para aprender tudo de novo. Para Beacraft, o que aprendemos na escola não serve para os dias de hoje e as próprias universidades terão de reinventar os métodos de ensino. Por isso, a adaptação é fundamental.

Como navegar em um mercado de trabalho em transformação foi o destaque da palestra de outro nome de peso, Rishad Tobaccowala, autor do livro ‘Rethinking work’. O especialista também tocou no aspecto da interação entre as pessoas, mas acredita que o trabalho presencial faz sentido para alguns ramos de negócios e apontou as mentorias como uma estratégia valiosa para reunir os funcionários e transmitir conhecimento.

Os participantes do SXSW saem com a cabeça fervendo de um festival que “despeja” tanta informação em uma semana. São em torno de 1.700 palestras que ocorrem ao mesmo tempo. O medo de perder alguma coisa, o chamado Fomo (Fear of missing out), é real. Como disseram vários executivos, duas pessoas não terão a mesma experiência. O evento será diferente para cada um. É disrupção na veia.

E os brasileiros, mais uma vez, marcaram presença em peso no evento. Sem exageros, mas o português foi um dos idiomas mais ouvidos no Austin Convention Center, onde ocorrem as principais conferências do SXSW, e nos seus arredores. Para se ter uma ideia do sucesso do Brasil em Austin, a SP House, iniciativa do governo de São Paulo, recebeu mais de 15 mil visitantes em quatro dias de programação.

Frase: “A disrupção não está na tecnologia, e sim na velocidade na qual as coisas vão acontecer” (Klamt).

Armando Ferrentini é publisher do propmark