Apavorado com o Fomo que é a essência do SXSW, revivi meus dias de jornalista,
somei ao de diretor-cobra-criada em filmes apertados em 30”, e me arrisco mais do que voei com o patinete em Austin, num texto fragmentado aqui para o PropMark. Li que a Greta Gerwig quando acaba o roteiro de um filme, deleta todos
“hello" e “bye”, e economiza tempo, saco, e grana. Gosto de econimizar. Bora la.

Escrevo do Alamo, o melhor cinema do mundo. Bebo um Old Fashioned, o diretor
apresenta seu longa, vestindo um very nice suit. Fim do dia um e vim dançar
coreografia country entre cowboys. Ainda há bares que não aceitam cartão, e vi
quase nada de brasileiros nas doze horas que estou aqui.

Dia dois e vi 30 mil brasileiros antes do meio dia. Ontem assisti um filme que dormi, hoje vi uma sessão de cinco curtas e meu medo de perder tudo agora parece
remediado graças aos Express Pass. Paul Feig, diretor de cinema que recém assisti
ao vivo, também usava um very nice suit. Penso que usaria mais ternos, não fosse
o Brasil, o Brasil.

Dia três e escrevo do abençoado Convention Center . Do Fomo, patino agora a outro medo: não aprender. Camila Cornelsen, que está comigo, não sai à noite. Diz que e precisa processar o que aprender. Uma nova amiga no aeroporto me disse a
mesma coisa. Ela usava chapéu de cowboy. Eu saio, e amanheço de volta no
carpete do Convention, bailando em café e correndo os dedos no app do SXSW.

Este é meu quarto ano aqui (13/14/17), e já sei que o nome das palestras é uma
manchete escandalosa que nem sempre entrega o que promete. Em um festival
onde crescimento intelectual, perde de relho para encontros com celebridades, é
natural que títulos da sessões sejam a alma desta propaganda. Safe Sex On Set,
Yes To the Mess - Leadership Lessons From Jazz, Tom Morello, Robert Rodriguez, Michelle Obama, Ben Stiller, são nomes de suar os tacos da véspera. Sorte que já
aprendi: Não adianta sofrer, precisa é correr. De patinete, bicicleta, esteira rolante. Tem um horário nobre (10 -16) que é de sala a sala, prédio a prédio, e tem que ter
muita vontade de encontrar alguém, para se abrir uma brecha pra um churrasco
texano.

Dia quatro e fico feliz que meu texto para o PropMark está esboçado. Pois agora é segunda feira no Brasil, e nem lá nem cá, o ritmo desacelera. Encerro com o que mais me impactou: o fim do mundo. Amamos este mundo tropical, mas assisti em VR uma bomba nuclear explodir com toda a Terra três vezes. Bastou uma, e a diretora Lena Herzog, me empastelou numa poltrona do Fairmont. Lena apresenta sua visão artística para um apocalipse onde o mar vira céu, pessoas viram poeira. Assisti com a mão no coração, e demorei a voltar. Quando o gentil volunteer me tirou os óculos, gemi a ele “eu vi a morte”. Ainda bem que saí dali. E ainda bem que metade dos participantes do SXSW, quer salvar o mundo. E a outra, vender os produtos certos para o apocalipse.

Rog Souza é sócio e diretor da Tropical Film