Nos últimos dois anos, Florianópolis passou a fazer parte da minha rotina e da minha vida. Vou pra lá com certa frequência e, a cada visita, algo em mim desacelera. O barulho diminui. O tempo muda. O olhar muda. Como se a ilha soubesse me lembrar do que realmente importa.
Foi lá que, certa manhã, parei para assistir a uma cena que, por mais simples que pareça, prendeu minha atenção: pescadores de tainha reunidos na areia, olhando o mar, em silêncio. À primeira vista, parece que estão apenas ali, esperando. Mas, na verdade, estão lendo sinais, sentindo o vento, observando o comportamento das ondas, das aves, da luz. Nada é por acaso. Eles sabem quando agir — e, mais importante, sabem quando não agir.
Aquela imagem me tocou profundamente. Talvez porque ela conversasse diretamente com algo que vive em mim desde sempre. Eu cresci perto da água. O mar e o rio sempre foram parte do meu cenário e da minha história. Meu avô era pescador. Meu pai também. Passei boa parte da infância ouvindo histórias de maré, de peixe, de redes que se lançam e se recolhem com esperança. Lembro-me de acordar cedo com meu pai para ver o sol nascer na beira do rio, e de como ele olhava o céu antes de decidir se saía com o barco ou não. Não era só intuição — era conhecimento, respeito pela natureza, leitura de sinais que não estão nos livros. Um tipo de sabedoria que não se ensina, mas se vive.
Essa memória voltou com força naquela manhã em Florianópolis. E me dei conta de como esses aprendizados simples e antigos ainda fazem sentido — especialmente no mundo profissional. Porque, no fundo, construir boas relações com clientes é muito parecido com pescar no tempo da tainha. A gente vive num mundo que valoriza a pressa, o imediatismo, a resposta rápida. Mas o que realmente faz diferença é saber ouvir, entender o momento certo, criar confiança. Como na pesca artesanal, não adianta lançar a rede na hora errada. É preciso paciência, escuta e precisão.
E ninguém faz isso sozinho. Na praia, são vários pescadores: um observa, outro comanda, outros puxam a rede juntos. Existe sincronia, respeito ao tempo e ao papel de cada um. O sucesso depende da coordenação — não da força individual. E penso em como isso também vale para os negócios. Os melhores resultados surgem quando há alinhamento, clareza de propósito e colaboração de verdade. Quando cada um sabe seu papel e confia no outro.
Hoje em dia, com tantas demandas urgentes, é fácil esquecer disso. Mas sigo acreditando que as relações mais sólidas — e as parcerias mais duradouras — são aquelas que respeitam o tempo de maturação. Aquelas que sabem esperar a hora certa. E que se constroem como essa pesca: em silêncio, juntos, com atenção ao que vem do outro lado.
Volto de Floripa sempre com essa imagem na cabeça. E com a sensação de que, às vezes, a melhor forma de se inspirar é simplesmente parar, observar... e confiar.
Andrei Croisfelt é co-CEO do Grupo Vati