Essa coisa de inspiração é algo muito pessoal. Muda todo dia. O que inspira hoje, amanhã já é conhecido. Meio como o jornal na gaiola do passarinho. Porque a gente muda, os assuntos mudam, a inspiração também muda de lugar.
Minha causa agora é sustentabilidade. Ou sendo mais precisa, a conexão entre Marca e Sustentabilidade. Assim com caps lock fica mais pomposo. É que dei um cavalo de pau na minha vida profissional. Hoje sou CSO da DMA – Digital Made Accessible, uma empresa de tecnologia muito inovadora. Esse S é de Sustentabilidade. Para mim, existe um M oculto nessa sigla, mas ia ficar esquisito. Ninguém é CSMO. Só que minha bagagem de cuidar de marcas me mostra que uma não existe sem a outra: Marca e Sustentabilidade. E vice versa.
Antes disso, dei outro cavalo de pau, dessa vez na vida pessoal. Moro em Lisboa há dois anos. Sou encantada com a cidade. Não há um dia em que não admire a paisagem urbana, a História em cada esquina, o espaço para o verde, a serenidade das pessoas, a imensidão do rio de água salgada quilômetros adentro.
Minha inspiração anda por aí, por esse trinômio Sustentabilidade-Marca-Lisboa. Não de um jeito formal, acadêmico.
Olha que interessante uma cidade em que o serviço público de limpeza se chama Higiene Urbana. Perceba o detalhe: não há a palavra lixo. Isso explica muita coisa. As pessoas cuidam de mantê-la limpa.
Também não há crianças pedindo esmola. Lugar de criança é na escola. Rimou, mas não foi intencional. Há vagas para todos. A escola pública tem qualidade, 81% das crianças estão no ensino público. Assim que minha filha mais nova foi matriculada em uma escola pública, fui chamada para receber o kit composto por computador com Intel i5, acesso à internet, fone, mouse e mochila. Com o pensamento ainda do Brasil, agradeci e declinei. Queria deixar para outra criança que precisasse. Fui interpelada. Por que estava privando minha filha dessas ferramentas? Tem para todos, não é preciso abrir mão. Aceitei de bom grado.
Tenho aproveitado para viajar pelo país. Em pouco mais de 6 horas é possível ir do Norte ao Sul e respirar as mais diversas paisagens, da neve à praia. Pela estrada, aqueles cataventos imensos. A energia eólica representa 65% da eletricidade consumida no país. O governo estabeleceu metas ambiciosas para alcançar a neutralidade carbônica até 2050.
Poderia ainda falar sobre os incentivos aos carros elétricos por meio de subsídios diretos para a compra, isenção de taxas e a infra de carregamento nas vias públicas, ou o SNS - Serviço Nacional de Saúde de acesso universal e sistema de coparticipação para a população residente.
Tudo isso ajuda a construir Portugal como marca. Marca que atrai 26,5 milhões de turistas por ano, quase o triplo da sua população. E que geraram uma receita de 25 bilhões de euros no ano passado. Marca que atrai cada vez mais imigrantes. Hoje, somos 10% da população.
Claro que Portugal ainda tem muito o que evoluir em temas como diversidade, racismo, xenofobia. Mas prefiro sempre olhar a metade cheia do
copo.Compreender as engrenagens que vão nos levar a um futuro sustentável é o que me desafia nesse momento. Simples. Dependeremos das nossas ações de hoje para isso. Muita gente pode enxergar todo esse movimento pela sustentabilidade apenas como uma necessária estratégia de negócios. Prefiro acreditar numa fundamental escolha ética.
Cuidar da marca DMA, perceber as possibilidades infinitas da tecnologia na construção da sustentabilidade e viver Portugal. Isso é inspirador.
Polika Teixeira é CSO da DMA (Digital Made Accessible)