A série ‘True detective: Terra noturna’, da HBO, é mais do que uma história de mistério.
Sem entrar aqui na discussão se essa temporada é melhor que as outras, queria trazer um dos aspectos que me chamaram a atenção: a ênfase na importância de fazer as perguntas certas, um tema frequentemente explorado pela personagem Liz Danvers (Jodie Foster).
Liz demonstra que a chave para desvendar mistérios muitas vezes reside não na quantidade de informações coletadas, mas na habilidade de fazer as perguntas
certas.
Essa abordagem não só leva à solução de casos intrincados, mas também revela verdades ocultas e motivações profundas.
O paralelo com a nossa indústria publicitária na era dos dados é evidente: em um mundo inundado de informações, a capacidade de fazer as perguntas certas é crucial para entender verdadeiramente o consumidor e dessa forma alcançar a performance desejada.
Temos acesso a uma quantidade sem precedentes de dados sobre os consumidores, desde padrões de compra até preferências pessoais e comportamento online.
No entanto, essa abundância de informações também apresenta um desafio: como filtrar o ruído e focar no que é verdadeiramente relevante?
Aqui, as lições de Liz Danvers se tornam aplicáveis. Precisamos formular as perguntas certas para extrair insights valiosos dos dados disponíveis.
Isso significa ir além das métricas superficiais e buscar entender as motivações, desejos e necessidades dos consumidores em um nível mais profundo. Gosto de utilizar o conceito das variáveis hard e soft. Uma pessoa com renda mensal de R$ 10.000,00 pode comprar um tênis de R$ 1.000,00 se desejar, então essa camada de filtro de renda é uma variável hard.
Mas qual tênis essa pessoa vai comprar?
Alguém com traços comportamentais mais extrovertidos vai comprar um colorido, descolado, pois internamente vai ficar feliz em ser notado pelos amigos quando chegar com o tênis novo.
Outra pessoa com o mesmo poder de compra, mas com traços comportamentais mais introvertidos, vai optar por um modelo superconfortável, mas provavelmente com cores mais neutras e menos chamativas.
Essa análise comportamental é o que chamamos de variáveis soft, e fazer as perguntas certas e filtrar os dados corretos é a única forma de obter esse tipo de informação.
Embora os dados quantitativos sejam importantes, a análise qualitativa, como feedbacks diretos dos consumidores, pode revelar insights que números sozinhos não conseguem.
Isso pode envolver desde entrevistas até análises de sentimentos em redes sociais. Lembrando que clientes não são leads. Clientes são pessoas.
Fazer as perguntas certas é mais do que uma técnica; é uma arte que, quando dominada, pode revelar verdades profundas e gerar conexões genuínas.
À medida que navegamos nesta era de dados, as lições de Liz Danvers oferecem um lembrete valioso da importância de buscar sempre a pergunta certa, não apenas a resposta mais rápida.
Como sempre gosto de pensar, a performance está no detalhe.
Vitor Miguel é VP de data & business growth da WMcCann
vitor.miguel@wmccann.com