Nos últimos dias, todos vimos uma notícia inesperadamente óbvia: uma imagem gerada por Inteligência Artificial ganhou um prestigiado prêmio internacional de fotografia.
O “fotógrafo” (ou seria o A.I. Prompter?) viajou até Londres para receber o prêmio apenas para dizer: “As competições estão preparadas para lidar com a I.A.? Não, não estão.”
Perdeu no próprio palco o prêmio da Organização Mundial de Fotografia, mas possivelmente ganhou um em Cannes ou no LIA, como já estava por lá mesmo.
Isso me lembrou uma história folclórica sobre a origem do Pinotage. Um cruzamento de uvas francesas inventado por um sul-africano há quase 100 anos.
Dizem que na primeira competição de vinhos que participou, ele não só foi ignorado, mas “humilhado”. Afinal, era quase um ato profano tentar competir com uma “aberração da natureza” contra os clássicos Pinot Noir e Hermitage (sim, Pinot-age).
Mais um ano e nada. Outro, a mesma coisa. Até, enfim, ganhar com um Pinot Noir o “melhor vinho do ano”. No seu discurso, ele disse algo como “Valeu, mas era a p**** do Pinotage que eu vinha falando esse tempo todo”.
Separados por quase um centenário, em ambos os casos os vencedores tiveram que dar uma publicitarizada nas suas ideias e pontos de vista para apresentar o novo ao mundo.
Não o melhor ou o pior. O novo mesmo.
Jeitos pouco delicados e muito eficientes de alertar que as coisas continuam mudando, e resistir é muito mais difícil do que se adaptar.
É claro que nesse exemplo mais recente, sua big idea deixa um clima estranho no ar. Dentro da reflexão, é inevitável nos pegarmos pensando: “Devemos nos preocupar?“.
Perguntei para a inteligência artificial que fez este texto aqui e ela disse que não.
Mentira. Mas poderia ser.
Rodrigo Niemeyer é diretor de criação da Purpple