De todos os lugares que trabalhei, a W/Portugal talvez tenha sido aquele que me fez acreditar que dava para ser redator. E que talvez tivesse algum talento. Encontrei a publicidade no interior de São Paulo entre São José do Rio Preto (DLM, Interativa) e Ribeirão Preto (MPM, Pentagrama), mas comecei a minha carreira para valer em Portugal. Na W/Portugal.

Inspirado por uma palestra do Washington Olivetto, decidi fazer publicidade. E apesar de alguns estágios curtos na capital, sentia que era inviável economicamente me aventurar na cidade grande, pois era preciso levantar um capital inicial e tentar ocupar espaço em alguma agência. Vivendo ainda na Cohab com meus pais, simplesmente achava que não conseguiria seguir para uma grande agência brasileira. Achava e ainda acho o nível altíssimo, mas diferentemente daquela época minha agência colabora para subir esse nível. Quem diria.

Era meado dos anos 1990 e vi um anúncio publicado por Edson Athayde procurando uma dupla para sua agência em Lisboa. Liguei para o número em Lisboa e pedi à secretária dele que me passasse o telefone e endereço de outras agências em Lisboa. Ela gentilmente me enviou algumas páginas da lista telefônica de lá, via fax, para a central de telefonia da Telesp. Com os endereços em mãos, escolhi aleatoriamente algumas agências para enviar meu portfólio.

Imaginei que os correios demorariam umas três semanas para entregar o meu portfólio. E uma bela terça-feira à tarde calculei o fuso horário e comecei a ligar para as seis agências para as quais mandei os trabalhos. Ninguém atendia na primeira agência. Nem na segunda. Depois da quinta em que ninguém atendia o telefone, pensei que tinha algo muito errado. A última da lista era a W/Portugal. Mas o nome metia medo. Liguei para cumprir tabela. Não haveria ninguém lá. Não ia dar certo.

Porém, alguém atendeu. Era Jaime Mourão Ferreira, sócio do Washington, que me explicou que naquele dia era feriado e ele estava trabalhando, pois tinham acabado de inaugurar a agência. E sobre meu portfólio disse a verdade. Era imaturo e para me dar uma chance, eu precisaria tirar férias e fazer uma entrevista. Se ele fosse com a minha “lata” me contrataria, disse. Rapidamente pensei que nem vendendo minha moto conseguiria tirar férias e tentar a sorte. Mas daí, meio que inspirado pela dificuldade, tive meu momento de ousadia, “meu momento de pneu furado do Fusca em frente à agência”, e tive uma ideia, talvez a melhor delas, pois foi a que permitiu o início da minha vida publicitaria.

Disse a ele:
–  Olha, posso gravar uma entrevista em VHS (câmera caseira jurássica) e te mandar a fita. Se você gostar, me contrata. Que tal? (não havia e-mail na época).
– Ideia gira, pá! Combinado. – ele realmente gostou da ideia.

E assim foi. Gravei, mandei, ele gostou, me contratou e daí a minha história profissional começou para valer num nível que sempre desejei. Porém, o Washington apesar de ser o dono, ia pouco para lá. Seu sócio Javier Lusá cuidava mais do escritório. Mas foi por osmose. Honrar o nome da agência era algo que todos que trabalharam na W/Portugal tinham muito orgulho.

Cinco anos depois voltei ao Brasil com ambições de trabalhar nas melhores agências. Com a minha mulher e a minha filha Dedé, mudamos de mala e cuia. Fui parado na alfândega, no aeroporto, pois tinha muitas malas. E apesar de ser algo normal, fiquei um bocado nervoso com tanto interrogatório. O oficial apenas fazia o trabalho dele. Garoto do interior tem medo de polícia e na alfândega então. Foi num momento em que a conversa não ia bem, para mim, claro, que abri minha carteira e saquei meu cartão comercial, com o logo da W/Portugal, meu nome, meu telefone e tal. E daí aconteceu uma mudança extraordinária no humor do oficial. Ele me perguntou.

-O Washington é seu patrão?
-É sim.
-Por que você não falou antes?! Sou fã do Washington Olivetto! Passa sempre aqui e é muito simpático! Pode ir.

Segui meu caminho, fui morar em Curitiba, trabalhar na Master, depois trabalhei com outro gênio, o Nizan, e finalmente montei a Tech&Soul com meus queridos sócios. Tempos depois, o Washington veio visitar a agência a pedido de Alan Page do Cresta. Veio nos trazer nosso Grand Prix desse prestigiado festival e contei a ele essa história, que se divertiu em ouvir. Faz algum tempo que ele nos deixou, ouvi muitas histórias legais sobre e essa é a minha. Valeu, Washington.

Flavio Waiteman é sócio e CCO da Tech&Soul
flavio.waiteman@techandsoul.com.br