Alê Oliveira

1. O país está confuso como nunca esteve. Os mercados não conseguem se reequilibrar, o desemprego aumenta, a inflação já está na casa dos dois dígitos e a reviravolta, que poderia trazer consigo uma esperança de melhora – pelo menos no médio prazo –, esvazia-se a cada dia.

Os observadores mais atentos à refrega política informam não verem lideranças capazes de comandar uma retomada. Com isso, o país se contenta em parecer um jogo de futebol, com os times disputando uma taça e para isso fazem faltas, não confiam nos árbitros e, sempre que possível, metem a mão na bola, negando quando o juiz apita.

Como chegamos a esse ponto é a pergunta que não quer calar. O tempo passou e todos esquecemos do início dessa enorme confusão que está nos levando a dias cada vez piores.

Não merecíamos esse destino de jeito algum, porque, acima de tudo, o povo é pacato e trabalhador. A sua boa-fé pode ser a responsável pelos muitos enganos com que nos defrontamos hoje e, de forma até surpreendente, levou o ex-presidente Lula da Silva a confessar, durante evento realizado na última quinta-feira, que a vitória de Dilma Rousseff nas últimas eleições foi eivada de mentiras: “Uma vez reeleito o novo governo, foram obrigados a fazer tudo ao contrário do que foi prometido durante a campanha”.

Só essa confissão de Lula da Silva daria impeachment em qualquer país com leis mais rigorosas que as nossas. Aqui, infelizmente, tudo passa e sempre passará, porque vivemos em letargia quando o assunto mexe com os nossos direitos.

Povo conformista justifica o surrado enunciado de que cada povo tem o governo que merece.

Se for assim mesmo, percamos as esperanças ao adentrar esse inferno, como Dante lapidou em sua obra: “Deixai aqui suas esperanças”.

2. O que mais se lamenta em todo esse imbróglio que parece não ter mais fim é o engano de pessoas influentes no país, a respeito dos personagens principais responsáveis pelo colossal teatro burlesco em que se transformou o Brasil. A lógica, a verdade e a retidão são constantemente violentados, recebendo surpreendentes apoios de celebridades que deveriam refletir o mínimo possível sobre essa grande engabelação que se transformou a política brasileira.

Saber que o festejado Chico Buarque de Hollanda enviou mensagem ao ex-presidente Lula da Silva no dia dos seus 70 anos, com palavras que violentam a verdade, é decepcionante: “Receba minha solidariedade não só pelos 70 anos, mas por tudo o que você vem enfrentando.” (Estadão, 28/10), é de indignar qualquer pessoa minimamente informada sobre a realidade dos fatos.

O querido Chico, de tantas canções aplaudidas mundo afora, quando usava seu talento para criticar a ditadura sempre repulsiva, não pode ter sido sincero nessas palavras.

Afinal, o que o ex-presidente Lula da Silva vem enfrentando, que não foi por ele provocado? Injustiças? Perseguições? Desconsiderações?

Nos seus momentos de ouro, Lula da Silva foi glorificado e eleito duas vezes presidente da República. Com a prestação de contas dos seus atos mais recentes até então ocultos, não há a menor possibilidade de ser imaginado uma vítima das circunstâncias.

Não para aí o absurdo. Seu filho Luis Claudio, investigado pela Polícia Federal em virtude de uma delação premiada cujo autor revelou seu nome em possível recebimento de propina, ao ser citado às 23 horas para comparecer à Delegacia da PF, provocou um ofício do Ministério da Justiça ao diretor da Polícia Federal, questionando o trabalho policial àquela hora da noite.

Há muito o que ser feito ainda para se mudar o país. O mais importante provavelmente seja incutir na cabeça de todos os brasileiros, e principalmente nas cabeças de determinadas autoridades, que todos são iguais perante a lei.

Quando obtivermos 100% de adesão dos brasileiros a esse princípio, poderemos até admitir que, de fato, as coisas ou mudaram ou estão mudando.

3. O mercado publicitário brasileiro torce para que estes dois meses que restam para terminar 2015 possam melhorar o desempenho contábil de agências, veículos, produtoras e fornecedores, acreditando nessa torcida que os anunciantes ganharam menos que em 2014, mas alguma coisa ganharão.

O mesmo não se pode dizer dos players diretos desse mercado, que desde o maldito placar de 7×1 pró Alemanha e contra o Brasil, na semifinal da Copa do Mundo do ano passado, têm visto o lucro com o binóculo ao contrário.

Há uma esperança no mínimo de equilíbrio, já que, pelo longo tempo transcorrido de lá para cá, as pessoas decidiram se mexer, embora com grande dificuldade, na tentativa de se evitar o pior.

Muitos comerciantes dos grandes centros estão apostando no 13º salário, que não será em grande parte dedicado às compras, pois há muitas dívidas esperando por ele, mas algo entre 30% e 40% poderá reverter para a compra de presentes que movimentarão uma parte da nossa roda da economia, hoje tão maltratada por gregos e troianos.

4. Francisco Madia de Souza, o mais antigo colaborador do propmark, lançou mais uma edição dos “50 Mandamentos do Marketing”, desta feita em comemoração aos 60 anos da atividade marqueteira.

Na introdução da obra, Madia de Souza é enfático: “Síntese do Aprendizado de Marketing & Branding 60 anos depois: Maio, 2015, e tudo o que se aprendeu no mundo velho e que sobrou das cinzas de duas Grandes Guerras, e como se ingressa no Admirável Mundo Novo que estamos apenas começando a viver. Sessenta anos em três aprendizados, frases ou, se preferirem, três mantras. E aqui, aprendizados que valem para pessoas físicas e jurídicas. O primeiro, pessoas fazem negócios com pessoas que conhecem, gostam e confiam. O segundo, para ambicionar ser uma marca de qualidade é essencial respeitar e corresponder às expectativas das pessoas que pretendemos conquistar, colocando-se no lugar delas. E o terceiro, para ser uma marca de qualidade depois de colocar-se no lugar de quem pretendemos conquistar, é necessário nos revelarmos e sermos absolutamente consistentes com o nosso enunciado, com o que nos propomos ser. É ser e fazer exatamente o que dissemos que éramos e como íamos nos comportar. É ter autenticidade”.

Mestre Madia merece aplausos por mais este lançamento em prol do marketing e sua história.

Armando Ferrentini é diretor-presidente da Editora Referência, que edita o jornal propmark e as revistas Marketing e Propaganda