A mulher sempre esteve em segundo plano. Mas nos últimos tempos tem avançado, apesar de alguns passos atrás, com atitudes machistas e ataques por parte dos homens, e pior, às vezes, sob o olhar de aprovação de algumas mulheres. É cultural!? Sim. E possivelmente a sociedade vai levar mais um tanto de anos para mudar este estado de coisas.

Para lembrar e analisar a quantas andam o lado profissional do público feminino no mercado publicitário, o PROPMARK, em parceria com o More Grls, startup de impacto social que visa aumentar o número, o valor e a visibilidade das mulheres criativas nas áreas de publicidade, conteúdo e design, realizou sondagem junto às agências para saber como estão se posicionando diante da escalada da mulher no mercado de trabalho. O levantamento com os principais insights resultou em um especial que remete ao Dia Internacional da Mulher, comemorado no próximo dia 8.

Créditos: Camila Rosa

Mesmo com os desafios, o público feminino tem razões para festejar, mas também questionar, já que o número delas no comando da área de criação nas agências é baixo em relação às outras áreas. Parece que é um setor masculino.

Vamos aos números: as mulheres totalizam 46% do quadro geral de funcionários. Em cargos de liderança, de diretor para cima, elas representam 44%. Mas quando considerado o topo da liderança, o número despenca: são 37% nos cargos executivos ou de vice-presidentes. E o mais dramático: apenas 10% na presidência.

Na área de criação, então, a coisa fica ainda mais feia. É a que menos braços femininos tem: só 25%. Já os homens ocupam 75% dos cargos de chefia na criação, garante a pesquisa. A título de comparação, se forem consideradas as áreas de negócios e atendimento, a porcentagem sobe para 69% (veja o quadro nesta página).

Existe um problema maior ainda para discutir, aponta o More Grls. Quando o assunto é raça, as negras estão muito longe do quadro. Apenas 4,3% das afrodescendentes estão no comando de alguma área. Ou seja, mesmo que 44% dos cargos de liderança sejam ocupados por mulheres, 96,7% delas são brancas.

Para um setor que está – e tem de estar – muito à frente de seu tempo, é no mínimo contraditório. O mercado publicitário deveria puxar a fila da igualdade e inclusão. Há bons exemplos – deve-se ressaltar -, porém o movimento deveria ser maior sem sombra de dúvida.

Nem tudo está perdido. Há agências com boas médias no quesito presença feminina, incluindo a criação (+ de 40%). Os destaques são New Vegas, BETC, W3Haus, Mutato, 11:21, BFerraz, Execution e Accenture.

Também há aquelas com boa performance quando o assunto são mulheres no comando, sejam em posições executivas ou na presidência (+ 40%). São oito agências bem na fita: Grey, Tribal, Ana Couto, Bold, Africa, Wunderman Thompson, Ogilvy e David.

Para esse raio X, o PROPMARK distribuiu entre agências de São Paulo e de outros estados mais de 70 questionários. Entretanto, 36 agências responderam (veja lista completa ao final). No total, são 20.981 colaboradores e 1.254 em cargos de liderança.

Algumas não participaram porque estão comprometidas com o compliance de suas respectivas redes internacionais, como é o caso do Publicis Groupe, do qual fazem parte Talent Marcel, DPZ&T, Leo Burnett Tailor Made e a Publicis Brasil. Todas declinaram para atender às normas, embora no país a lei de proteção de dados ainda não esteja valendo. As que participaram (veja matérias nas próximas páginas) acreditam que a situação entre homens e mulheres é equilibrada.

Mas, quando os números são confrontados, a discrepância é grande. Veja também a seguir ampla entrevista com as cofundadoras do More Grls, Camila Moletta, head de design da F.oxi Consulting, e Laura Florence, diretora-executiva de criação da Havas Health & You. Vale ressaltar ainda que colaboraram com este projeto a profissional de planejamento Renata Barbosa e Gabriela Soares, que também colabora com o More Grls e é head de planejamento da Talent Marcel.

Veja nas próximas páginas deste especial as reportagens sobre o mercado de trabalho para mulheres negras, uma discussão sobre a falta de líderes na área de criação e debate sobre paradigmas e vieses de gênero.

Empresas que responderam à pesquisa: Dentsu Aegis Network Brasil, Grey, OpusMúltipla, Wunderman Thompson, New Vegas, Tribal WorldWide, BETC, Warren Brasil, Purple Cow, Ampfy, Future Brand São Paulo, W3haus/Ecossistema Haus, Grupo Rai, Agência Lema, Ana Couto, Wieden+Kennedy SP, CP+B, Pullse, F.biz, MullenLowe, Bold, FCB Brasil, Mutato, Africa, Ogilvy, 11:21, David, Ampla, Bullet Group, GUT, Jüssi, WMcCann, BFerraz, R/GA, Execution, Tátil Design e Accenture.