Pathy Dejesus conta sobre o seu início de carreira, seu relacionamento com as marcas e dá a sua visão sobre qual é o papel das marcas na sociedade
Patricia de Jesus chegou aos holofotes entre 1994 e 2004, estampando campanhas, revistas e andando pelas passarelas, se tornando a primeira mulher negra a desfilar na São Paulo Fashion Week, em 1995.
Após 10 anos, se tornou atriz e marcou presença em grandes novelas nacionais, como Avenida Brasil, Caminhos do Coração e I Love Paraisópolis. Além das novelas, ela também participou da série "Coisa Mais Linda", da Netflix.
O talento e carisma da paulista fez com que muitas marcas passassem a chama-la para estampar suas campanhas. Hoje, Pathy soma peças publicitárias para Stella Artois, Protex, Neutrogina, Hering Sports, Stone, O Boticário e diversas outras.
Ao propmark, Pathy conta sobre o seu início de carreira, seu relacionamento com as marcas e dá a sua visão sobre qual é o papel das marcas na sociedade. Leia a entrevista na íntegra:
Como foi o início da sua carreira, desde a época em que estava inserida na moda, início da carreira como atriz, e como isso impactou a Pathy de hoje?
Comecei como modelo à convite de uma das maiores agências do país. Não me adaptei no começo, minha realidade era muito distante de tudo aquilo. Com os primeiros anos fui me adaptando e acabei construindo uma carreira sólida. O início da carreira de atriz veio depois de muito estudo e não foi de forma automática. Acredito que todas as minhas escolhas não só impactam quem sou como fazem parte do que sou. O aprendizado é constante. São camadas de uma mesma mulher em eterna evolução e transformação.
Você já lidou com diversas marcas ao longo da sua trajetória. Para você, quais são as principais diferenças daquela época para a atual?
Tive a oportunidade de trabalhar com uma infinidade de grandes marcas quando modelo , mas como é sabido, são contratos que muitas vezes independem dos nossos gostos pessoais, do nosso poder de escolha. Além disso, a modelo muitas vezes está ali pelo que é esteticamente compatível com o desejo da marca. Hoje, a minha relação com a marca é mais íntima e direta. Eles procuram Pathy pessoa física, como costumo brincar. Além disso, tive uma relação muito boa com marcas e profissionais, que fazem com que hoje as pessoas se interessem em mim como porta voz de seus produtos. Também faço questão de ter minha imagem vinculada somente com o que não vá contra ao que acredito/defendo.
Você iniciou a carreira na moda, que se encerrou há mais de 20 anos, e estrelou diversas produções como atriz. Como foi essa transição de carreira?
Não sei se considero uma transição porque quando decidi me aposentar como modelo não tinha ideia de que me tornaria atriz. Não queria mais ser modelo, isso era um fato e parei no auge ainda. Faltava algo, não me sentia completa. Sou movida à grandes paixões e atuar é exatamente isso. Além de ser extremamente desafiador e de nunca ser um lugar “confortável” — é preciso estar sempre em movimento, estudando, criando, observando, absorvendo.
Você é rosto de diversas marcas atualmente. Como começou esse trabalho de influenciadora? Foi algo pensado e planejado?
Nada pensado ou planejado, sou de uma outra geração. Tudo era de outra forma e num outro ritmo. Acredito que minhas escolhas e maneira de trabalhar me fizeram atravessar gerações e permanecer no mercado.
Hoje, como é a sua relação com as marcas? O que você leva em consideração na hora de fechar algum trabalho?
É mais direta e objetiva. Muito raramente uma marca chega até mim sem saber quem sou, quais valores carrego, o que é importante pra mim e o que defendo. Isso facilita muito as coisas. Como pessoa pública também consigo imprimir minha personalidade dentro desse contexto. Deixa de ser uma relação “vender por vender”.
O que você acredita que sejam as missões das marcas atualmente? Qual é o papel delas na sociedade?
Eu gosto de pensar em marcas como um organismo vivo. É preciso evoluir, acompanhar as mudanças do mercado, da sociedade. Os consumidores estão cada vez mais conscientes de suas escolhas, podendo comprar, não comprar e até mesmo boicotar marcas. Então se faz mais que necessário um posicionamento claro e consistente, por exemplo: não adianta ser oportunista e se envolver com uma causa como o racismo só no mês de novembro e no resto do ano ignorar a luta antirracista. Mas também não dá mais pra se envolver de forma rasa, sem ter no quadro da empresa um percentual de funcionários negros. Isso não cola mais, o consumir está super atento.
Você coleciona trabalhos com marcas de luxo. Para você, qual é a importância de estar à frente dessas campanhas?
No começo eu honestamente nem acreditava, porque era uma realidade bem distante da minha. Eu não tinha conhecimento e muito menos poder aquisitivo para consumir a maior parte delas. Passei a ocupar um lugar que lá no meu íntimo, sabia que nem de longe tinha sido idealizado pra mim. Um lugar praticamente impossível quando se leva a interseccionalidade racial e de classe em consideração. Sou uma mulher preta que veio da periferia de SP e que passou estampar capas, comerciais, grandes campanhas no começo dos anos 2000, sendo que na maioria das vezes, eu era a única ali. Acredito que quebrei sim algumas barreiras, tenho consciência e orgulho do lugar que cheguei. Mas defendo a ideia de que, se não existe uma conquista coletiva, ainda falta muito o que alcançar.
Dentre todos os trabalhos publicitários que você já fez, tem algum que mais te marcou?
Os primeiros trabalhos muito grandes tiveram maior impacto na minha vida. Principalmente porque me mostravam que profissionalmente eu estava crescendo. Estar em outdoors enormes, em rótulos de xampu, capas de revista ainda no final dos 90 foi divisor de águas.
Você se enxerga como marca?
Me enxergo sim. E agora com mais solidez. Uma marca mais madura rs.
Qual é a melhor definição da marca Pathy Dejesus?
Um produto real. De credibilidade. Com solidez. E acessível.