Anamid será liderada por Rodrigo de Oliveira Neves, reeleito para presidir a Abradi-SP e que saiu com toda a diretoria ao não concordar com os rumos do pleito
As eleições para a nova gestão Abradi (Associação Brasileira dos Agentes Digitais), para o biênio 2022-2024, se transformou em crise, com acusações, pedidos de renúncia e de um novo pleito, desfiliações e a saída de toda a diretoria da regional de São Paulo, estado mais representativo em termos de associados.
Desde 28 de abril, data da assembleia geral e da votação, a história se arrasta. E, agora, ganhou mais um capítulo com o surgimento de uma nova associação para representar os interesses da empresas de digital, a Anamid (Associação Nacional do Mercado e Indústria Digital).
Em processos de formalização, a entidade será liderada por Rodrigo de Oliveira Neves, CEO e fundador da VitaminaWeb, que tinha acabado de ser reeleito para presidir a Abradi-SP e que saiu com toda a diretoria no fim de junho ao não concordar com os rumos do pleito, decidido pelo Conselho Administrativo da Abradi.
Isso por que no dia da votação, a chapa a "Abradi Brasil", liderada por Carolina Morales, atual presidente da entidade, entrou com um pedido de impugnação da equipe adversária, a “Nova Abradi”, representada José Daltro Martins. No mesmo dia, no placar da eleição, a “Abradi Brasil” receberia 76 votos contra 183 da “Nova Abradi”.
Na alegação, argumentou que Daltro Martins não tinha comprovado vínculo enquanto sócio ou representante de empresa associada à entidade, algo contrário ao previsto no estatuto. O profissional informou pertencer à NDI3, que não respondeu a diligência; citou então outra empresa, a PillBiz, motivo que a chapa adversária usou como argumento para demonstrar potencial manobra irregular do candidato, que era até então vice-presidente da entidade.
Do outro lado, a "Nova Abradi" apontou que a ação de impugnação não deveria ser aceita por ter sido realizada fora do prazo estipulado, 15 dias antes do pleito acontecer.
Após réplicas e tréplicas, coube ao Conselho da entidade, composto por 5 membros, a decisão -- 3 a 2 pela impugnação da chapa “Nova Abradi” e pela manutenção da liderança da associação nas mãos de Carolina Morales. O resultado foi considerado inadequado e previsível pela “Nova Abradi”, que questionava a suspeição dos membros do conselho e pedia uma ‘Câmara de Conciliação e Mediação’ para uma análise ‘imparcial da controvérsia’.
Além disso, o escritório jurídico contratado para acompanhar o processo eleitoral, frente aos imbróglios e ao resultado da votação, recomendou a realização de um novo pleito. No parecer encaminhado ao Conselho antes da definição, o advogado Emerson Franco Menezes escreveu: “aconselhamos a declaração da nulidade da Assembleia Geral Ordinária realizada em 28/04/2022, iniciando-se, imediatamente novo processo eleitoral”.
Nas recomendações finais, listou quatro pontos. Primeiro, rejeitar a ‘preliminar de intempestividade’ da impugnação apresentada pela chapa ‘Abradi Brasil’; segundo, dar provimento à impugnação apresentada, face aos fatos e fundamentos expostos; terceiro, declarar a nulidade de todo o processo eleitoral; quarto, determinar a revisão cadastral dos associados à entidade, o preenchimento correto dos termos de adesão e representação junto à entidade dos profissionais que estão aptos a votar e serem votados.
"...de maneira conclusiva e seguindo o dispositivo estatutário, não cabia à entidade "seguir" ou "não seguir" recomendações do escritório especializado. Mas sim, seguir rito previsto, oportunizando a cada membro do colegiado, que tem direito a voto, declarar sua decisão perante o parecer. Foram indicadas cinco providências à Diretoria e ao Conselho de Administração ao final deste parecer e assim, os votos foram tecidos", argumenta Morales.
Desfiliações
A decisão de 7 de junho trouxe mais inquietude do que tranquilidade à associação. Vieram pedidos de renúncia e o lançamento de um manifesto clamando pela convocação de uma assembleia geral. Ao mesmo tempo, associados começaram a solicitar desfiliações da entidade.
Pelas contas de Rodrigo, mais de 100 empresas teriam deixado a Abradi. “Não levaram em consideração que a maioria dos associados queria mudança. Independentemente do processo, chapa, não queriam que a atual continuasse”, afirma, para quem o processo fez com que as companhias não se “sentissem representadas”.
A gestão da Abradi apresenta números menos expressivos. “À época das eleições, contávamos com 484 associados e na última sexta-feira, em reunião de diretoria, fechamos o balanço com 430. A região mais impactada foi a de São Paulo devido à influência do ex-presidente regional no estado”, afirma a presidente da entidade.
A despeito da cifra, a movimentação ajudou a impulsionar o processo para a criação da nova entidade, que “não estava nos planos”, segundo Neves. “O principal pilar é a democracia, que está guiando todo os nossos passos”, afirmou. Para o lançamento, procuraram uma data que carregasse um valor simbólico, 15 de setembro, conhecido como o dia Internacional da Democracia.
Ele conta que em poucos mais de 15 dias receberam mais de 200 pré-cadastros, provenientes de mais de 70% dos estados brasileiros, que reúne tanto empresas egressas da Abradi quanto novos interessados. A ideia é que a Anamid congregue empresas pessoas físicas que trabalham com digital, como consultores, professores e estudantes.
Questionado sobre a concorrência com a associação antiga, Neves vê diferença entre as abordagens. “A questão não é disputar espaço. O nosso foco é representar quem está com a gente e escutar as pessoas. O crescimento nosso vai ser natural e bem intenso porque eu tenho bastante energia para poder gastar. Nós vamos fazer acontecer. A Abradi tem uma cabeça, uma gestão que é completamente diferente do que a gente quer para uma associação. Então, querendo ou não, as entregas serão diferentes e as pessoas poderão ter uma opção de escolha”, afirma.
Concorrência é positiva, diz Abradi
Para Carolina, a “Abradi vê como positiva para o mercado a concorrência, não enxerga um problema e nem uma ameaça. A concorrência é positiva, no livre mercado, do ponto de vista da qualidade dos serviços prestados aos principais clientes (que são os associados) já que um dos principais objetivos da entidade é angariar o maior número de agentes digitais participantes do movimento” e acrescenta que “espera poder cooperar com a nova associação (quando esta for criada)”.
Por outro lado, se mostra crítica à atuação dos líderes dissidentes. Além de Rodrigo, estão na cabeça da nova associação Daltro Martins, diretor de negócios da agência PillBiz e será vice-presidente Vice-Presidente de Relações Institucionais; Vinicius Melo, CEO da D2B Agency, como Vice-Presidente de Expansão; e Silvio Soledade, sócio da PlanoGestão e presidente da APP Brasil, como CFO.
“...entende-se hoje que os líderes dissidentes estavam em busca do poder a qualquer custo. Mesmo sem cumprirem os requisitos estatutários para o procedimento eleitoral, buscaram por meio de uma guerrilha digital e propagação da desinformação, enfraquecer as lideranças da instituição. E essa missão da oposição continua. Ao anunciar uma nova Associação os ex-líderes, deviam seguir em frente com seus projetos e não prospectar diariamente os associados fiéis à marca que querem investir seu tempo em projetos, benefícios e eventos, entre outros”.