Alta de preços sustenta crescimento do setor, enquanto consumidor adota postura mais cautelosa diante do orçamento apertado
A desaceleração da inflação dos alimentos ainda não trouxe alívio significativo para o bolso do consumidor brasileiro. De acordo com dados da Scanntech, o faturamento do varejo alimentar cresceu 5,8% no primeiro semestre de 2025, em comparação com o mesmo período do ano anterior. No entanto, esse avanço foi sustentado principalmente pela alta de 7,3% nos preços, já que as vendas em unidades apresentaram queda de 1,4%.
A análise considera o desempenho de supermercados e atacarejos. O estudo aponta que o consumidor tem reduzido a frequência de compras e adotado estratégias mais racionais diante da gôndola, priorizando produtos essenciais ou mais baratos. O ticket médio por visita subiu 6,2%, mas houve retração de 1% na quantidade de itens por compra e de 0,4% no número de visitas às lojas.
Mercearia é a mais afetada
A única cesta que registrou crescimento em volume foi a de perecíveis, impulsionada por frutas, legumes, verduras e ovos. Já a cesta de mercearia básica apresentou a maior retração, resultado do aumento expressivo nos preços desses produtos.
Priscila Ariani, diretora de marketing da Scanntech, explica que o cenário ainda é de insegurança para o consumidor. “Além das altas recorrentes nos preços dos alimentos, há outros fatores externos que afetam o poder de compra e impactam diretamente o orçamento destinado às compras do mês. Isso faz com que ele adote estratégias mais racionais em frente à gôndola, como trocar produtos por similares mais baratos ou levar apenas o essencial para aquele momento, evitando ainda mais pressão sobre o bolso”, afirma.
Consumo mais racional e menor confiança
O comportamento mais conservador também está relacionado à queda de 0,8 ponto percentual no Índice de Confiança do Consumidor da FGV em maio, somado ao aumento da inadimplência e à alta dos juros no período.
A tendência de queda nas vendas em unidades foi observada ao longo de quase todo o semestre. Apenas janeiro e abril registraram crescimento — este último impulsionado pelas vendas da Páscoa. Os demais meses tiveram retração no volume, com destaque para março e junho, que caíram 4,1% cada. Mesmo nesses meses, os aumentos de preço mantiveram o faturamento em alta, embora em ritmo mais moderado, com variações de 1,3% e 3,2%, respectivamente.
Imagem: aleksandarlittlewolf/Freepik