Estados Unidos e Europa debatem lei que prevê remuneração para empresas produtoras de conteúdo pelas gigantes de tecnologia
Tramita no Congresso dos Estados Unidos a Lei de Concorrência e Preservação do Jornalismo, que busca valorizar a atividade do profissional naquele país. Mas, segundo Marcelo Rech, presidente-executivo da ANJ (Associação Nacional de Jornais), a pauta travou no Congresso, muito provavelmente por pressão das chamadas big techs, principalmente da Meta, grupo que controla o Facebook, o Instagram e o WhatsApp.
O projeto americano prevê que as empresas de jornalismo sejam remuneradas pelas gigantes de tecnologia, por conta do uso de conteúdo produzido nas suas redações.
Na Austrália a lei já vigora desde fevereiro de 2021 e, segundo Rech, o assunto já se espalhou pelo resto do mundo. Na França, Canadá e Nova Zelândia, por exemplo, já se discute o assunto. No Brasil, o executivo acredita que a pauta deve “entrar quente em 2023”.
Ele é adepto de um acordo global contra a desinformação. “Da mesma forma que existe um acordo mundial em torno das condições climáticas, precisamos de um acordo global contra a desinformação, pois ela ameaça a saúde mental da população mundial”, avalia.
Rech revela ainda que já teve várias rodadas de conversas na Unesco para que haja um esforço mundial. A ideia dele é reforçar a verdade, já que os veículos de comunicação estão fragilizados no mundo todo e a democracia está sob sério risco se nada for feito. “O mais importante é reforçar o jornalismo”, defende.
Para ele, os tempos atuais são difíceis e é preciso uma regulamentação que não restrinja a liberdade da imprensa, o que ele chama de “liberdade de expressão responsável”. Os exemplos que o mundo tem hoje dão uma palinha do quanto a coisa pode piorar no futuro. Segundo ele, parte da população brasileira hoje vive em um mundo paralelo, que ignora a informação crível e se restringe ao Instagran. “Isso é um risco para a democracia”.
Jorge Tarquini, jornalista, professor e especialista em comunicação, afirma que a discussão em torno da remuneração das empresas que produzem conteúdo é inevitável. Para ele, as big techs criaram, de certa forma, um monopólio, e a questão vai além da econômica. “Tem de se estabelecer certo equilíbrio de forças, para levar inclusive a um equilíbrio financeiro”, declara.
Tarquini acredita que, mais do que discutir a remuneração, o mercado tem de frear a escalada das gigantes de tecnologia para cima da indústria da informação.
As big techs ganham muito dinheiro com informação de qualidade produzida pelos meios de comunicação. E a regulamentação deve ajudar a preservar a democracia, tão ameaçada nos Estados Unidos, assim como no Brasil. As redes sociais são grandes fomentadoras de fake news, como todos sabem, e viraram fontes de informação para muitos. Já os veículos de comunicação gastam muito na produção de conteúdo e as big techs ganham explorando o material diariamente. Portanto, já passou da hora de regulamentar esse acesso e fortalecer a mídia.