O home office é uma novidade tão grande que a grande maioria dos profissionais sente que deve expressar suas experiências para “confortar” ou até dar dicas para os colegas de profissão, tão longe e ao mesmo tempo tão perto, afinal, a tecnologia está aí para isso.

Martin Montoya, chief operating officer da Cheil Brasil, por exemplo, vai buscar em experiências do passado para compartilhar sua forma de confinamento. Ele diz que por ter morado muitos anos em outros países consegue analisar hábitos locais em contraste com outros que já conheceu. “O calor humano, a paixão e a emoção do brasileiro são características maravilhosas, mas às vezes tornam o dia a dia no trabalho mais complexo e demorado”, afirma, acrescentando: “Ironicamente, a falta de objetividade frequentemente torna a jornada de trabalho mais longa, tirando tempo para a emoção de estar com a família”.

Para ele, nesse contexto, a experiência “radical de home office pode ser uma oportunidade para aprender novos hábitos e, então, ganhar mais objetividade e praticidade na forma de conduzir os negócios”.  “Eu já observo uma maior consciência quando as pessoas se preparam para as reuniões. Já fui convocado tantas vezes para encontros ao vivo em que não existia uma pauta clara. Muitas reuniões são utilizadas só para identificar o ponto a ser tratado.  Talvez, numa segunda reunião, se resolva alguma coisa”, analisa Montoya. Ele acha que as reuniões deveriam servir para tomar decisões e que cada um deveria chegar com a lição de casa feita e uma opinião formada. “Mas, agora, com a obrigação de atualizar status-reports em tempo real, e com vídeos conferências que sofrem de problemas de conexão, percebo que todo mundo se prepara melhor. As pessoas ficam menos à vontade num vídeo conferência, e preferem acabar logo. Isso leva a um melhor pré-trabalho, pautas mais objetivas e decisões mais rápidas”, dispara.

Ele não deixa de perceber a capacidade das pessoas em se adaptar à novas situações. “O mundo já está nos oferecendo esse desafio. Se formos ainda mais inteligentes, saberemos também manter alguns desses aprendizados quando a vida voltar ao normal”, argumenta.

Marcos Falcão, da AlmapBBDO: isolamento é complicado

Já para Marcos Falcão, diretor de tecnologia da AlmapBBDO, a experiência do home office não é muito diferente da rotina que tinha na agência, porque ele já trabalhava integrando times espalhados pelo mundo. Utilizando ferramentas como Slack, Zoom, arquivos armazenados na nuvem. “Os times atuam como se estivessem sentados um ao lado do outro. O que está sendo um pouco complicado é a questão do isolamento social, que gera um certo stress e angústia por ficar o tempo todo no mesmo ambiente”.

Segundo ele, o pitoresco desta situação está sendo trabalhar do lado da minha filha, que está fazendo home school. “Uma troca de experiências das rotinas”, avalia. Ele afirma consiguir cumprir até mais compromissos do que normalmente no escritório. “Muitas reuniões de zoom em zoom. Foco total! Mantenho os aparelhos, como TV, desligados. Não tenho criança pequena em casa, o que ajuda bastante. O tempo que economizamos em deslocamentos é convertido em produtividade”, diz.

Para outros profissionais a rotina do home office está mais difícil. Adriana Ribeiro, CFO da Bullet, por exemplo, revela alguns cuidados para manter o foco na quarentena. Em primeiro lugar, ela fala que os profissionais devem manter a disciplina. “Programe-se como se fosse sair para o trabalho, estipule seu horário e o cumpra, do acordar, passando pelo café da manhã, até sentar-se na mesa de trabalho. Isso inclui a roupa, pode até vestir-se com algo confortável, mas não fique de pijama”, alerta.

Um lugar fixo na casa é outro ponto que ela aconselha. “Deixe-o como se fosse o seu escritório na empresa, com canetas, lápis, agendas e papel de rascunhos”. Além disso, Adriana dá uma terceira dica que é manter um planejamento claro de suas atividades do dia. “Entrega de projetos e reuniões marcadas on-line”. E por último uma alerta muito importante: “Ter flexibilidade de horário é diferente de não ter horário”, dispara.

A executiva ainda ressalta a importância da empresa ter diretrizes claras para os seus profissionais em home office e os líderes precisam estar comprometidos diariamente com as atividades de sua equipe. Ferramentas de comunicação como hangouts, room meetings e whatsapp são importantíssimas. “Se você tem filhos, faça para eles também um planejamento das atividades, assim você também consegue controlar melhor as interrupções”.

Segundo ela, pelo fato do trabalho ser mais flexível, muitas vezes, não se percebe que trabalho corre direto, sem pausa. “Faça normalmente o seu horário de café e almoço. Essas pausas são superimportantes para a criatividade e foco nos objetivos”, sugere Adriana. Outra coisa importante é manter a limpeza do ambiente de trabalho.

Leticia Costa, da BETC/Havas, em home office

Leticia Costa, diretora de operações da BETC/Havas, avalia que a sua experiência está sendo surpreendente. “A princípio, nosso plano era implementar o home office no último dia 12, porém tivemos um caso de Covid-19 no conjunto empresarial e tivemos que antecipar e implantar tudo do dia para a noite. Montamos um comitê com um responsável por cada área mais relevante ao processo TI, DP, Facilities, Financeiro e Negócios, e em menos de um dia todos os nossos colaboradores estavam trabalhando de casa, com internet, acesso VPN à nossa rede e tudo funcionando”, conta ela, acrescentando que foram mais de 300 chamados abertos e resolvidos em menos de dois dias pelas equipes de TI e Facilities. “Obviamente que o dia a dia é diferente, e estimulamos o uso de vídeo conferências para não perdermos a relação de proximidade. Para mim, a maior dificuldade é conciliar trabalho, filhos e casa. Para tanto, estou me dividindo com o meu marido”.

Para ela, o curioso é são as pessoas tenderem a cumprir mais o horário das reuniões quando realizadas via call. E enumera os benefícios do home office, como poder almoçar em casa, não perder horas no trânsito, ter privacidade e silêncio para executar algumas demandas mais complexas. “Porém, o que mais mudou foi a minha rotina, pois como diretora de operações estou acostumada a receber muita gente na minha mesa para conversar sobre diversos pontos. A distância reduziu essas pequenas interações, que viraram mensagens via WhatsApp e Teams. Por serem mensagens ou ligações, as pessoas tendem a ser mais objetivas. Então, objetividade foi outro ponto que vejo de melhoria”, detalha. Com tudo isso, ela ainda diz que tem cumprido os compromissos, porém tem feito um trabalho forte de gestão do tempo. “Adicionei na minha agenda 1h pela manhã e 1h pela tarde para estudar e interagir com as crianças. Faço o máximo de comida possível no fim de semana, para não ter que cozinhar durante a semana. Além de, obviamente, seguir com o meu despertador, no entanto, além do horário de acordar inclui também o horário para almoçar”.