Publicitários ouvidos pelo propmark destacaram a relação entre tecnologia e solidão como um dos destaques da edição deste ano
As conexões humanas em um mundo cada vez mais tecnológico: esse talvez tenha sido o principal assunto do South by Southwest 2025, que aconteceu na última semana em Austin, Texas, nos Estados Unidos.
O evento, que reuniu nomes de peso em diversas áreas, tentou entender como convergir a tecnologia e a humanização, além dos caminhos para reduzir o uso de redes sociais e, assim, evitar o isolamento.
"Procure a sua comunidade. Temos muitas opiniões, mas nenhuma resposta nestes tempos difíceis”, disse.
Ju Elia, por exemplo, voltou de Austin pensando justamente na relação entre conexão e solidão. "Apesar do avanço acelerado da tecnologia, sentimos, a cada dia, a ausência de uma conexão humana verdadeira", disse a VP de estratégia da Publicis Brasil.
A conexão humana também foi o principal recado do SXSW para Felipe Malta, CEO da F/Malta. "A corrida pela tecnologia de ponta é essencial para o mundo atual, mas não podemos esquecer de voltar às ‘origens’, às relações de afeto, à sociedade, ao coletivo", disse.
Veja abaixo mais depoimentos:
"O SXSW deste ano trouxe uma reflexão profunda sobre como estamos conectados, mas muitas vezes sozinhos. Apesar do avanço acelerado da tecnologia, sentimos, a cada dia, a ausência de uma conexão humana verdadeira. As palestras foram marcadas por mensagens de alerta, evidenciando essa desconexão. Entre discussões sobre inteligência artificial generativa e sustentabilidade, uma pergunta ecoava pelos corredores: 'Estamos nos afastando uns dos outros sem nem perceber?'. Esther Perel destacou essa realidade com uma frase impactante: "Tecnologia sem intimidade é só barulho." O fato é que, à medida que nos tornamos mais conectados digitalmente, nossa distância emocional cresce. Resolvemos conflitos por mensagem, evitamos conversas difíceis com áudios curtos e trocamos encontros pessoais por chamadas sem câmera. Embora estejamos presentes no mundo virtual, muitas vezes não estamos realmente ali. Um dado simples, mas doloroso, chamou a atenção: pais e filhos podem passar tempo lado a lado, mas frequentemente não estão verdadeiramente juntos. Essa experiência no SXSW nos lembrou da importância de cultivar conexões humanas autênticas em meio à era digital". Ju Elia, VP de estratégia da Publicis Brasil“O maior ensinamento do SXSW deste ano é que as pessoas têm que estar no centro da equação. Por mais que haja tecnologias, ganhos exponenciais com novas Ias, no final das contas, precisamos sempre falar com gente. Toda e qualquer tecnologia tem que estar a serviço das pessoas, e não o contrário. Com essa pandemia da solidão, nós, profissionais de marketing, temos que ter sempre como foco a criação de conexões entre pessoas, em tirá-las dessa solidão. Nós temos uma responsabilidade como comunicadores em estabelecer uma narrativa que faça com que as pessoas se conectem. Acho que o brand experience já faz isso como nenhuma outra atividade de marketing, até porque o nosso negócio é a vida ao vivo”. Marcelo Lenhard, fundado e CEO da Hands Ag"O maior aprendizado para mim é que precisamos urgentemente retomar o controle da internet. Os heróis das redes sociais, que foram aclamados nos palcos de edições passadas por prometerem disruptar o mundo e democratizar tudo, se tornaram os grandes barões do dinheiro e poder. Quando se falava no passado que 'dado é o novo petróleo', nem pensávamos que surgiriam esses oligarcas desse novo petróleo. Infelizmente grande parte dos palestrantes (e até a própria escolha deles) preferiu trazer um tom mais ameno e menos crítico sobre as pautas que incomodam. Mas deixo aqui meus aplausos aos corajosos que tiveram a coragem de enfrentar o status quo no palco e trazer soluções, como a CEO do Bluesky, Jay Graber, Meredith Wittaker (Signal Foundation) e Professor Scott Galloway". Cleber Paradela, VP de conteúdo e inovação da DM9"Em 2025, tive a incrível oportunidade de visitar Austin e participar do SXSW pela primeira vez que, como toda primeira vez quando a gente entra em contato com uma informação, uma coisa, uma cidade, uma viagem etc, é marcante e guardamos na memória os gostos, cheiros, cores e formas, e sensações. O SXSW foi, para mim, uma imersão intensa em inovações: assisti a Amy Webb delinear cenários futuros, ouvi a acidez provocativa de Scott Galloway, conheci os sonhos da Nasa e participei de dezenas de painéis sobre inteligência artificial. Encontrei desenvolvedores, makers, médicos, marketeiros, além de me encantar com a magia da Disney e as presenças dos atores hollywoodianos Kevin Bacon, Ben Stiller e Pedro Pascal. Vi até o carro autônomo da Waymo, além de Metallica e Michelle Obama. Absorvi uma verdadeira avalanche de informações, que gerou novas ideias e insights, e me deixei levar pela inovação. Acima de tudo, percebi que o novo pode ser desafiador, mas é nele que surgem as maiores oportunidades. Quero levar esse aprendizado para o meu dia a dia, explorando novas experiências sem medo do desconhecido e utilizando a tecnologia de maneira colaborativa para impulsionar minha criatividade e produtividade." Mariana Corradi, diretora executiva de Estratégia da LePub São Paulo"O SXSW 2025 reforçou que a IA não é mais um experimento pontual, mas uma tecnologia profundamente integrada à sociedade. No entanto, sua adoção exige um olhar crítico: a conveniência vem acompanhada da responsabilidade de curar informações, garantir transparência e assegurar que os usuários tenham controle sobre as micro-decisões tomadas pela IA. No meu dia a dia, isso significa ir além do uso automático da IA. Internamente, envolve revisar com atenção o que foi gerado e questionar se podemos extrair mais valor da tecnologia. Externamente, passa por considerar a privacidade dos dados e auxiliar os clientes a encontrar soluções equilibradas, onde a IA não substitua o pensamento humano, mas amplifique sua capacidade. O objetivo não é apenas eficiência, mas um impacto positivo e consciente para empresas e usuários". Victoria Aiello, diretora de inovação da Dentsu"O SXSW mostrou que os creators não são apenas criadores de conteúdo — são catalisadores de conexão. Eles ocupam um espaço que antes era da mídia tradicional, mas com uma diferença essencial: proximidade, identificação e comunidade. A nova era da creator economy não é sobre grandes números, e sim sobre relevância emocional e confiança. Foi-se o tempo em que bastava anunciar — agora é preciso pertencer. No painel sobre 'The Human Side of Influence', um dos speakers trouxe um dado impactante: as pessoas confiam mais em creators do que em marcas. Porque veem neles algo raro hoje em dia: verdade. E essa verdade tem moldado o social advertising. Não basta mais um post bonito, é preciso gerar conexão real, com propósito e afeto. Marcas que tratam creators apenas como mídia perdem a oportunidade de criar algo muito maior: comunidade viva e conversas significativas. Creators são o elo entre a tecnologia e a humanidade. São eles que conseguem transformar um produto em uma história, uma campanha em um vínculo, um anúncio em algo que toca — não só que vende. A tecnologia pode escalar tudo — menos o afeto. E o futuro da comunicação será escrito por quem entender que a conexão emocional ainda é e será por todo o sempre o ativo mais importante". Thiago Bispo, VP comercial da BR Media"O que mais impactou foi a preocupação real com o uso excessivo da tecnologia e com a atual falta de interações sociais verdadeiras. Não à toa, solidão, depressão, suicídio e outros problemas semelhantes têm aumentado demais. A corrida pela tecnologia de ponta é essencial para o mundo atual, mas não podemos esquecer de voltar às ‘origens’, às relações de afeto, à sociedade, ao coletivo.” Felipe Malta, CEO da F/Malta“A transformação que estamos passando nos faz hiperventilar. Nossa capacidade de absorver é limitada e nos iludimos com essa possibilidade. Se tudo muda tão rápido quanto nossa cognição pode apreender, o que fazer? No meio do SXSW, há uma janela para observar o meio do furacão, um lugar calmo, um ponto fixo, um espaço que, se bem compreendido, pode ser o “Tao”. Esse lugar se chama curiosidade. Lá no meio eu consigo ver que esse ponto fixo, tão antigo quanto nós mesmos, que permanece como via para atravessar tempos dinâmicos e turbulentos. A capacidade de ampliar a si mesmo de maneiras não óbvias nos afasta da mediocridade que está cada vez mais barata com a IA – aliás, com a curiosidade, a IA vai amplificar a virtude. O SXSW sussurra: saia das grandes salas e busque as menores. Erre no transitivo e intransitivo do verbo. Fuja dos livros de negócios, mergulhe na literatura, na ficção em especial. Leia algo que não se resolva em 20 páginas, menos influencers e mais artistas. Seja mais profundo e amplo contra a superficialidade efêmera de um jargão anglofônico. O SXSW repete um mantra humano em uma frequência inaudível aos ouvidos ansiosos: curiosidade e cultura.” Fabio Pellim, managing director da Oliver"Muita gente saiu do SXSW criticando o evento, os conteúdos e até a abordagem – e, sendo bem sincero, concordo que ele já foi mais impactante em outros anos. Mas, para mim, o que faz valer a pena ainda é a possibilidade de nutrir e reconectar relações, tanto no Brasil quanto com o resto do mundo. O SXSW é um evento que te joga na rua, te provoca a enxergar novas possibilidades e a se conectar com gente que você talvez nunca encontraria em outro lugar. É um espaço de escuta, mas também de troca. Você ouve uma ideia de manhã, discute sobre ela à tarde e já pensa em como aplicá-la à noite. No fim, o grande valor do evento não está só no palco, mas nas conexões improváveis e nas oportunidades que surgem nos encontros fora da programação oficial. Para quem sabe aproveitar, o SXSW ainda tem muito a entregar". Guilherme Pierri, CEO da Digital Favela“A IA é muito citada em palestras sobre publicidade e branding e, é claro, esteve muito presente no SXSW deste ano. No entanto, um dos principais insights compartilhados no evento destacava justamente a importância do equilíbrio entre tecnologia e autenticidade para criar experiências significativas. Estudos compartilhados no festival ainda revelaram que 80% dos consumidores preferem comprar de marcas que oferecem experiências humanizadas e personalizadas – e que 95% das decisões de compra são influenciadas por emoções. Em resposta a essa realidade, precisamos desenvolver estratégias criativas que fortaleçam as relações e conexões humanas, buscando despertar emoções genuínas e interações autênticas. Nesse cenário, as marcas que se destacam são as que combinam inovação com autenticidade, criando histórias reais, experiências emocionais e comunidades engajadas que garantem um posicionamento forte e diferenciado, provando que o fator humano se torna um diferencial competitivo essencial.” Nani Oliveira, COO da Onze Marketing e Comunicação“Um tema central no SXSW 2025 foi a importância de valorizar as conexões humanas nestes tempos de inteligência artificial e convergências tecnológicas. É justamente quando muitas atividades passam a ser otimizadas com o uso da tecnologia que o fator humano pode fazer a diferença – através das emoções, da capacidade criativa e das relações entre pessoas, que as máquinas não são capazes (ainda) de reproduzir. Isso deveria se refletir no dia a dia do nosso setor publicitário, onde a necessária adoção crescente da IA generativa em todos os processos não deveria canibalizar a potência das relações humanas, o olhar criativo e as emoções que dele derivam. Parece cada vez mais certo que homem e máquina, juntos, são capazes de produzir coisas novas, nunca vistas e verdadeiramente revolucionárias.” André Zimmermann, sócio da NetCos, Oliver, Ampliva e Pipeline Capital; e presidente da ShowHeroes Brasil"O SXSW 2025 trouxe um recado poderoso: para liderar o futuro, precisamos aprender a antecipá-lo. Prever tendências não é adivinhar o amanhã, mas perceber hoje os sinais sutis das mudanças que estão chegando. Um dos principais insights foi a importância de cultivar uma mentalidade aberta ao novo, curiosa e atenta, conectando pontos aparentemente desconexos para identificar oportunidades antes mesmo que elas sejam óbvias. Entendo que, para o meu dia a dia, isso significa nunca parar de questionar, procurar estar cada vez mais próximo de pessoas com visões diferentes e, acima de tudo, incentivar sempre o meu time a testar, arriscar e aprender rápido. Afinal, estar à frente do tempo é estar confortável com a incerteza, enxergando nela não uma ameaça, mas o espaço ideal para inovar, surpreender e crescer." Leonardo Chebly, CEO da NEOOH