Eu não tinha ideia de como seria possível voltar ao trabalho tão cedo

O papel do homem na educação dos filhos ganhou um novo significado. Ele não é mais visto apenas como o provedor da família. Está mais presente na vida das crianças e assume tarefas inimagináveis em décadas passadas. Homem trocar fralda de bebê? Um dos momentos de maior interação olho no olho, a incumbência que antes poderia fragilizar a masculinidade - muitas vezes, carregada de machismo -, é agora reconhecida como uma fortaleza do homem moderno, que acolhe responsabilidades ao lado da mulher.

O Dia dos Pais, comemorado neste domingo (13), convida a família brasileira a ir além da corrida por presentes e perceber que amor de pai merece a mesma intensidade na celebração. A jornada está no começo. Mas exemplos vindos de agências de publicidade e do marketing de anunciantes comprovam o avanço.

“No sexto dia depois do nascimento do meu filho, a rotina ainda estava irregular e bem mais pesada. Eu não tinha ideia de como seria possível voltar ao trabalho tão cedo”, desabafa Tasselli, 38, redator da AlmapBBDO, que está em licença paternidade atualmente. Ele é pai Arthur, bebê de apenas dez dias, e Stella, de quase 3 anos. A agência concede 30 dias, podendo agregar férias.

Ainda são poucas as organizações que tomam a iniciativa de expandir o benefício, e uma eventual mudança na regra é incerta. Hoje, a lei estipula apenas cinco dias. O período pode ganhar um acréscimo de 15 dias caso a companhia participe do programa Empresa Cidadã.

Gustavo Tasselli, redator da AlmapBBDO, com Stella, de quase 3 anos, e o bebê Arthur (Divulgação)

A primeira noite na maternidade é o momento escolhido por Rodrigo da Matta, 44, diretor-executivo de criação da Lew’Lara\TBWA, para expressar a emoção de ser pai de Dom, 5. “Varei a noite admirando cada dedinho, fiozinho de cabelo. Até hoje, quando coloco o Dom para dormir, paro ao lado da cama, e fico admirando. É coisa de pai babão”, confessa.

O criativo reconhece que nem sempre foi assim. “Antigamente, o papel do pai era trabalhar e dar sustento financeiro. E quem tinha um pai mais presente era sortudo. Eu sou um deles. Enfim, traços de uma sociedade machista, em que o pai transferia para a mãe toda a responsabilidade pelo cuidado dos filhos. Hoje, eu e minha mulher temos o mesmo papel de cuidar, educar, alimentar e, principalmente, amar o nosso filho”, declara.

David Pinski, 47, head de marketing e inovação da unidade de pele da Flora, e pai de Gabriel, 16, e Thomas, 14,  ratifica a análise de Rodrigo da Matta. “Quando eu era criança, o papel esperado do pai era mais focado em prover o sustento dos filhos. Hoje, os pais são mais participativos”, confere.

A adolescência, muitas vezes, faz os pais terem saudade de trocar fraldas. “A pauta com a minha filha está menos cheia do que eu gostaria. Ela está na idade de estudar muito, ano do Enem, e quando sobra tempo gosta de sair com as amigas. No restinho que sobra para mim, gostamos de ir ao cinema, ver o nosso time jogar, ver filmes, praia. Não temos muito planejamento”, conta Emerson Braga, 49, CCO da Propeg, pai de Luana, 17.

Dante Compagno, diretor-executivo B2C da Vivo, com Leonardo e Antonio

Atividades ao ar livre e brincadeiras em casa integram a rotina de Renato Winnig, head global de branding e direção criativa da Natura, com os filhos Theo, 10, e Amelie, 7. “Procuro nutrir essa relação mesmo quando os dias são mais complexos. Para as crianças, isso faz muita diferença. E pra gente, também”, frisa o executivo.

Atitudes que antes eram consideradas sinônimo de fraqueza, hoje fortalecem André Pallú, 39, diretor de criação da Wieden+Kennedy, pai dos gêmeos Lena e Raul, de quatro meses. Acordar mais cedo, almoçar mais rápido e dormir mais tarde redefiniram o retorno ao trabalho. “Diferentemente da realidade dos anos de 1980, fui criado por um pai que participava ativamente. O exemplo de casa, além das discussões sobre o tema, ajudaram a construir a minha percepção”, assegura.

Dante Compagno, 44, diretor-executivo B2C da Vivo, reflete sobre a agenda sempre conectada, que mistura atividades profissionais e pessoais. “Aproveitar o tempo que tenho com os meus filhos e minha mulher é o meu jeito de ser feliz”, atenta o pai de Leonardo, 12, e Antonio, 7. A convivência é de parceria. Reflexo do avanço social, a figura de pai provedor, autoritário e disciplinador tem cada vez menos espaço.

“Ser pai é parte da minha identidade. Não é uma função. Estar presente na rotina, conversar e dar exemplos é a melhor forma de participar”, insiste Compagno, que se emociona a cada conquista dos filhos. “Perceber que sou referência
me inspira a ser uma pessoa e um pai melhor”, acrescenta. Futebol, música e shows estão entre os programas favoritos. “Toco violão e os meninos cantam. É muito bom”, mostra Compagno.

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