Em sua primeira visita ao país, Kwame Taylor-Hayford, presidente global do Festival D&AD, participou do encontro com jovens criadores autodidatas
O D&AD realizou, nesta quinta-feira (28), a formatura da segunda turma brasileira do D&AD Shift, escola gratuita voltada para jovens criadores autodidatas de fora do mercado publicitário. O encontro aconteceu na sede da BETC Havas, em São Paulo, e contou com a presença de Kwame Taylor-Hayford, presidente global da instituição.
Durante seis meses de atividades, os 19 participantes desenvolveram soluções para briefings reais apresentados por Uber, Natura e Surf (Unilever). Além disso, participaram de workshops e mentorias com profissionais da indústria criativa, entre eles André Gola (Grey Brasil), Joanna Monteiro (D&AD board) e Day Molina (estilista e pesquisadora).
Criado em 2016, o programa já formou quase 350 profissionais em cidades como Londres, Nova York, Sydney e Berlim. No Brasil, esta foi a segunda turma concluída.
D&AD Close Up
Além da formatura, a programação incluiu o Close Up, uma roda de conversa com Kwame Taylor-Hayford, Keka Kukui'o'kalani Schermerhorn, consultora do D&AD, Joanna Monteiro, integrante do conselho consultivo do D&AD, e Erh Ray, CEO e CCO da BETC Havas, mediada por Ana Boyadjian, copresidente da aldeiah e mentora do Good Latinas for Good.
Durante o painel, os criativos falaram sobre os rumos da criatividade, o impacto social no branding e os novos caminhos para marcas e criadores.
Na visão de Kwame Taylor-Hayford a empatia é um fio condutor essencial da criatividade. “Não se trata de contar a minha história, mas de fazer você sentir a minha história. Quando fazemos isso muito bem, é algo poderoso. Porque pode ajudar a mudar a visão de mundo de alguém.”
O presidente do D&AD analisa a mudança do setor como uma construção constante. “Haverá momentos de três passos à frente e dois para trás, mas o importante é seguir avançando. Comparado aos anos 1990, por exemplo, já estamos em outro patamar e é isso que deve nos motivar”, define ele.

Joanna Monteiro ressaltou que o propósito do D&AD Shift é abrir portas para ambos os lados. “Tanto o festival, quanto tudo o que eles fazem, tem a ver e tem com o propósito, com um grande propósito: educação de pessoas e abertura para quem é novo, para que outras pessoas entrem na indústria”, comenta.
Para ela, o contato com esses criadores amplia também a visão das marcas. “A gente vê esses caras atuando e é sensacional, porque é realmente diverso, é realmente plural… eles trazem coisas sensacionais. O ponto de vista é realmente novo, eles trazem suas experiências e a gente tenta adaptar para o pedido de um briefing. Isso é uma troca”, reflete.
“A nossa indústria é feita por talentos. E talentos a gente tem de alimentar, a gente tem de cuidar e a gente tem de promover”, concordou Erh Ray. Somando a reflexão, o executivo brincou sobre o conceito de ‘borogodó’ ser a explicação para o diferencial brasileiro. Para o CEO, esse ‘tempero’ é um resultado de um “mix de colaboração, diversidade e propósito”.
Ele relembrou ainda suas experiências iniciais, fazendo um paralelo com o cenário de 30 anos atrás. “Uma coisa que eu aprendi nesse nosso trabalho é ser generoso. E generosidade é uma forma de retribuir. Trabalhei na DM9, era um celeiro de pessoas criativas, independente de cor, raça, sexo ou ideologia. E acho que vem muito disso, essa efervescência. Para mim, existe uma obrigação de retribuir, colaborar e ajudar”, disse.
Na visão de Keka Schermerhorn, o Brasil foi uma escolha natural para sediar o programa pela relevância criativa do país, mas também pela necessidade de reduzir barreiras de acesso.
“O Brasil é uma fonte imensa de criatividade e precisa desse tipo de projeto. Na verdade, todos os países têm uma necessidade para esse programa, porque as barreiras na nossa indústria são muito altas, leva muito esforço, muito trabalho”, comentou.
"A gente precisa da colaboração de todos aqui para fazer isso acontecer, porque a gente faz a nossa parte, mas a gente precisa contratar, a indústria precisa aceitar esses talentos como talentos necessários para a próxima fase de publicidade", analisou Keka, que citou a falta de inclusão indígena como exemplo do caminho que o mercado ainda precisa trilhar. "Assim, pessoas indígenas no mercado são menos de 1%... não está nem na pauta, não é nem falado sobre", provocou.
A proposta do projeto é oferecer acesso à formação prática e à rede de oportunidades no setor para talentos que não tiveram oportunidade de ingressar no ensino tradicional. Kwame adiantou que há planos de expansão do Shift para países como México, França, África do Sul, Espanha e Itália.